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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Corações e Calendários - Homenagem à minha avó

Coração não tem calendário:

Dia 2 de Novembro passou e eu não senti nadinha.
Hoje acordei com uma PUTA saudade da minha avó Amélia.

Acho que ela era a única que entendia que eu já era "diferente". Talvez por se reconhecer em mim também. Mas só hoje, 17 anos após sua partida, é que eu finalmente a entendo. E não só isso: a tenho como inspiração para me tornar a mulher que sou hoje.

E sei que a cada passo difícil que eu dou, ela tá do meu lado. Qualquer decisão difícil a tomar, eu a chamo, eu sinto o cheiro dela, e a solução aparece. Sei que ela ainda tá por aqui cuidando de todos nós... Mas se eu pudesse fazer um único pedido hoje, eu pediria pra chegar agora no quintal e encontrar sua porta aberta, onde eu me sentava no chão pela manhã pra ajudá-la com seus artesanatos e perguntá-la sobre coisas da Vida.

Sim, discutíamos muito - mas, também, com quem eu não discuto?? Mas ela foi aquela pessoa que ainda insistia em mim. Espero poder estar dando algum orgulho a ela, onde quer que esteja - lá em cima, aqui do lado, ou aqui dentro de todos nós (porque o "fã-clube" dela era ENORME!).

Portanto, se vocês gostam de mim desse jeito esquisito, sem frescura, meio "pé-na-porta", que só ri ou chora ou dança se for de verdade, que debate política de igual pra igual com qualquer homem, que não tem medo de mudar de cidade e de destino se for preciso, que dá a vida e a própria saúde por filhos, não só próprios mas também de outras pessoas... Bem, se vocês gostam de mim assim, vocês se APAIXONARIAM pela minha avó. Tudo o que sou é apenas um pedaço do que ela deixou em mim.

E que tenha sido apenas semente.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Prelúdio - ou A Sedução do Sono Eterno

Era mais uma sexta-feira comum. Apenas mais uma sexta-feira. 
A mesma rotina. Os mesmos lugares. As mesmas pessoas. 
Talvez com uma ou outra variável. 


Ela, angustiada, só queria parar de pensar naquele mar de lembranças em que parecia estar se afogando. "Talvez se eu tomar 'um pouco mais' desse remédio pra ansiedade... Talvez eu apenas respire..."

Ela sabia o quanto era aquele "um pouco mais". Mentia pra si mesma pra talvez exumar-se da culpa do que estaria tentando fazer. Ou para deixar de ser ridiculamente dramática, já que, provavelmente, nada daquilo faria esse efeito todo. "E nem aquele babaca merece isso"

Jogou para o lado os longos cabelos. Jogou a mochila nas costas. Foi pra escola. 

Do outro lado da cidade ele também não parava de pensar. Mas resolveu tentar pensar em outras coisas. E resolveu visitar cenários e sensações novas. 
Antes ele temia chegar ao o seu limite, agora ele parecia que não havia mais limites a chegar. 
E sempre que voltava o pensamento, o limite era empurrado pra um pouquinho mais distante. 
E atropelou-se num efeito dominó de insensatezes. 
As sensações precisavam ficar cada vez mais intensas pra que pudesse surtir efeito, 
o efeito, 
aquele efeito, 
o tal efeito de esquecer o próprio vazio.
Ou de parar de querer lembrar toda hora. 

Na escola, tudo foi ficando cada vez mais distante, 
cada vez mais distante... 
Percebeu-se apenas fechando os olhos e caindo. As vozes em volta pareciam lhe chamar, mas não pareciam lhe afetar. 
Sentiu-se carregada. Talvez por algum professor. Ela não conseguia enxergar lá muito bem... 

E acordou com o "ping" do aparelho de monitoramento cardíaco no quarto da UTI. Um tubo que lhe subia pelo nariz lhe incomodava, mas estava grogue demais pra poder tentar tirar aquilo que, em sua alucinação, afirmava ser um cigarro. Ninguém achou engraçado. Talvez porque toda a família teria deixado de lado até mesmo suas mais arraigadas diferenças para se perguntarem, todos quase em uníssono, com as mãos na cabeça: 

"POR QUÊ?" 

Nem ela sabia também responder. 


Em meio às luzes da cidade boêmia, tropeçando entre garrafas de long neck abandonadas no meio-fio, ele mesmo também parecia não saber muito bem o que estava fazendo, mas todos percebiam o desejo óbvio de estar mais perto da morte. 

A questão era que mais uma vez ele metia os pés pelas mãos: desejando ser amado, passava dos limites, acabava desprezado. Mas estava entorpecido demais pra saber disso. Apenas sentia. Resolveu apegar-se na pouca companhia que lhe restou, mesmo que ao término do fim-de-semana tenha finalmente percebido que até com esses ele tinha agido errado.  

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Acordei no sábado extremamente cansada. Uma angústia me abatia desde a noite anterior, fui dormir em posição fetal e com os olhos encharcados - ainda que eu não soubesse dizer que eu estivesse chorando propriamente, pois as lágrimas só escorriam à revelia da minha vontade ou pensamento. Talvez movida por essa intensidade, tinha tido um sonho extremamente curioso: você estava lá, e tirava do varal uma peça de roupa (que pelo tecido eu pensei que era uma camiseta minha, mas depois percebi que era uma saia com o mesmo tecido em azul celeste) e me entregava. Tinha tempo que eu não tinha sonhos tão reais, e fazia tempo que nem tínhamos contato... Além do tal raio de camiseta que, no sonho, era uma saia. "Bobagem eu me preocupar com isso...", e embalei numa faxina geral pra na verdade organizar meus pensamentos. 

O que não adiantou em nada pois, no fim da manhã, veio a notícia do hospital. Ela tava bem. O pai que parecia destroçado. Pensei que sentiria certa satisfação ao percebê-lo assim, mas diante das circunstâncias, nem me passou pela cabeça. 

Na verdade, eu só tava encasquetada ainda por que aquela imensidão de angústia ainda não tinha ido embora, já que a boa recuperação da internada já era evidente, além dos encaminhamentos médicos. Inclusive seu arrependimento aparente. 

Mas não era mais ela a preocupação agora... Ela eu já bem conhecia. No momento, a menina estava segura. 

ENTÃO ERA O QUÊ? 

Na manhã de segunda, depois recuperar um pouco do choque, decidi ir à praia pra poder respirar um pouco. Fui buscar o D'us que eu teria visto em sonho alguns anos antes. Fui pedir orientação e perdão por não estar sentindo culpa pelo que eu não fiz - porque eu sei que fiz. 

Mas a caminho da praia, antes mesmo de alcançá-la, fui puxada pelas mãos pelo Destino, e minha rota mental se desviou: a notícia era a de que a Legião estava solta, e que a Morte andou trabalhando muito mais duro do que eu imaginava na mesma sexta-feira. Ainda que por meios diferentes. Mas buscando desaguar no mesmo lugar. 

Larguei então tudo pra trás e fugi para o mar. "Chegar até a praia e ver que o vento ainda está forte" foi crucial pra eu também me sentir forte naquele momento. Houve uma outra época em que esta triste canção de Renato Russo ecoava pra mim na Praia Vermelha pois eu lembrava de um jovem companheiro que ali conheci e que não resistiu ao canto sedutor do Sono Eterno. Mas apesar de todas as circunstâncias, esta canção agora ecoava num tom mais ameno dentro de mim, como se os Anjos que me carregavam até ali fizessem questão de me aliviar aqueles fardos tão pesados que vinham ao mesmo tempo. Porque eu me recordava de todos os sinais dados anteriormente por todos, mas me dei conta de que eu sabia muito menos sobre o que fazer do que eu pensava. 

E talvez por ignorância, arrogância ou orgulho 
eu quase perdi, 
de uma vez só, 
2 das pessoas que eu mais amo. 

Bem, agora eu ainda continuo muito sem saber o que fazer. Talvez nem saiba ainda nem como lidar. Mas ao menos vou tentar atropelar menos as coisas - eu sei, a gente é "doente", não consegue "não atropelar"... Mas enquanto eu tento isso, eu só peço (ou imploro): POR FAVOR, AGUENTEM SÓ MAIS UM POUQUINHO!! Não só em meu nome, mas em nome de todos aqueles que nunca os esqueceriam ao sentir a melancólica sensação de ser tocado pelo vento à beira-mar. Eu já estive onde vocês se encontram, e foi por um pedido desses que eu ainda me encontro aqui. Prometo que vai valer a pena.

Vamos ao menos tentar?


"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu..."



terça-feira, 14 de novembro de 2017

Vento no Litoral

Na Lua Minguante, a maré baixa se revolve à beira da Praia Vermelha.
Parece que o Universo está em acordo para que tudo seja levado para o fundo do mar.

É tempo de renascimento.

Por isso deixo o vento lamber a canga na qual me protejo do frio. Deixo o vento levar pra longe toda a Morte que tem tentado roubar meus últimos dias e os mais preciosos dos meus afetos.

Não foi um sábado fácil para ninguém. E nem pra mim, que fiquei só administrando as notícias de longe, diferente das outras vezes.

Dessa vez as bombas não estavam em minhas mãos, mas não foi fácil me manter longe dos estilhaços. Pelo menos eles não me machucam tanto mais - e isso é estranho. Talvez eu já possa ter alcançado uma espécie de lucidez que parece cegar a visão do que esperam de mim. Talvez seja isso que a Vida queira de mim - justamente o que não se espera.

Olho pro céu buscando confirmação à minha reflexão, e um avião atravessa o céu da praia. Se esconde atrás da pedra e me deixa só, novamente, com as luzes de Niterói ao fundo e o silêncio do marulho. Suspiro.

Nesse mesmo cenário que me acolheu em sonho antes mesmo de o conhecê-lo de fato, e que me acolheu em outras tantas vezes que precisei, o mar me surpreende agora tentando me alcançar na faixa de areia, como se Iemanjá já me avisasse que era hora de partir.

"Será esse o sinal que eu estava esperando?"

Olhei pela última vez ao centro do céu da Praia Vermelha e busquei visualizar aquele D'us que vi outrora, naquele mesmo local, mas em outra dimensão:

- Senhor, eu não sou digna que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salva...

Levantei-me e parti. Não demorou muito para chegar em casa e o Destino, através do Cristo/Krishna me responder assim da forma mais óbvia que poderia:

- Bhagavad Gita!

A partir daí, outra história em estado germinal se vislumbrou à minha frente, abençoada por Arjuna (espero eu).

(Continua.)



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Epílogo - ou A Arte de Ser Vulnerável

Às vezes, temos que admitir que não podemos vencer todas as batalhas.

E que há batalhas das quais nunca sai nenhum vencedor.

Quantas são as relações em que brincamos de cabo-de-guerra? E por que continuamos brincando se sabemos que só sairemos com o joelho ralado?

Assim é fácil perceber quando decidir por se afastar também pode ser sinal de Amor. Por ambas as partes.

Por aquela pessoa que amamos e por nós mesmos.

Pra manter o que houve de mais sadio na memória e diluir mágoas.

Se afastar é a solução mais dorida pr'aquele mal que também dói. É ter Amor o suficiente pra suportar perceber que as duas partes ficam melhores uma sem a outra - apesar daquela sua certeza intrínseca de que você sim, seria capaz de fazer "dar certo".

E todos nós realmente somos capazes de um monte de coisas, não me levem a mal, mas coragem mesmo é ser capaz de dizer "eu to desistindo" diante de algo ou alguém, pois é permitir-se ser vulnerável.

Eis a grande coragem do Amor: SER VULNERÁVEL! Talvez seja por isso que o Amor nunca tenha sido pra mim; talvez meu destino seja mesmo o de um caminho solitário, talvez não tenha sido em vão que a Vida já tenha me acostumado a me deixar tantas vezes sozinha: eu não sei ser vulnerável. Não sei nem direito o que isso significa, porque tenho um orgulho do tamanho de um elefante - apesar da auto-estima de taturana - e talvez eu cobre de mim mesma uma postura bem mais rígida. Talvez eu estivesse apenas cansada de apanhar da Vida; eu tava pronta pra bater quando você chegou. E aí eu apanhei ainda mais...

Mas é justamente para secar essas e outras mágoas que decidi que não serei mais forte. Ou me esforçarei pra não ser mais assim tão forte o tempo todo. Porque o peso dessa armadura cansa demais e eu já não tenho mais forças pra seguir adiante. Aliás, já não tenho forças pra encarar as pessoas que mais me afetam. Estou também sem forças pra segurar o tamanho de certos abalos. Então eu me desvio, e procuro caminhar passos mais seguros por entre os trajetos que você não tem cumprido. Não pretendo mais encarar de peito aberto se o meu coração está visivelmente sangrando: logo eu, que nunca abaixei a cabeça pra ninguém, aceito agora o fato de que será mais saudável pra mim abaixar a cabeça ao te ver passar daqui pra frente. E, acima de tudo, evitar te ver passar. Evitar estar na sua presença. De respirar o mesmo ar.

Dessa vez não por orgulho, ou vingança, ou qualquer tipo de hostilidade.

Mas simplesmente por assumir pra mim mesma - e pra poder talvez, um dia, assumir ao mundo - que a dor é muito maior do que eu.

E que eu não estou conseguindo suportar.

Talvez eu nunca tenha sido tão vulnerável na vida quanto estou me permitindo ser agora.

(Se é que eu sei direito o que isso significa...)

Ia'Orana!