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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Não era amor, era psicose

 Não era amor, como tantas vezes eu queria que fosse. Era vontade de salvá-lo de si mesmo, do buraco em que você se afundava, o que era impossível. E pra isso eu usei de todos os artifícios. Recorri a amigos em comum. Eu queria te ver mesmo não falando com você, e não gostava do que encontrava: bebida, drogas, e principalmente mulheres. Afinal você era livre, éramos livres, mas eu me sentia presa. Escrevi mil cartas de amor que nunca foram lidas. E eu no fundo sabia que nunca seriam lidas. Te dediquei canções que ressignifiquei só pra te encaixar. Não era amor, era loucura, hoje sei. Eu estava em surto e você se tornou meu tema preferido. 

Ouvindo as canções antigas de Baco Exu do Blues, tudo voltou como um filme. Mas hoje com mais consciência sobre tudo o que aconteceu, enxergo uma relação conturbada que só existiu em minha mente. Lembro-me dos sonhos que tinha enquanto estive internada. Sonhava com você me salvando da minha vida e de mim mesma. Bastaram 2 semanas aceitando os antipsicóticos pros sonhos sumirem. Era tudo criação da minha mente doente: eu estava internada havia 2 meses e você com certeza seguia a sua vida, com todas as mulheres que podia, porque - eu não queria enxergar - você era assim, gostava de experimentar, experimentar de tudo, aliás. Eu fui apenas mais uma. Não era amor, era experiência. 

Ao sair da internação, busquei notícias suas nas redes sociais. Você me pareceu mais evoluído, concentrado em seguir um caminho mais saudável, galgando novos degraus na vida. Foi um misto de alívio e um tanto de tristeza. Você com certeza já não pensava em mim, nem deveria cogitar por onde eu andava, por tanto tempo sumida. E creio que até hoje eu não devo passar de um borrão do seu passado, se é que sobrou alguma memória da sua mente embriagada de todos os narcóticos que você consumia. Sobrou alguma memória sobre nós? Algo que não fosse nossas crises? Tivemos bons momentos? Você recorda de algum? Eu mesma só lembro de dor, confusão e obsessão. Obsessão minha, pois você me confundia entre indiferença e "coincidências" inexplicáveis. Eu nunca sabia o que você queria de mim. E hoje vejo que talvez eu também não soubesse o que eu queria de você. Eu só queria que aquelas noites estreladas de banho na minha laje e das reflexões de mãos dadas fossem eternizadas. Eu eternizei nossa primeira noite juntos num desenho em grafite. Foi a única memória boa que guardei. O resto... Bem, o resto foi curado pelos medicamentos. Pelo menos a confusão que a obsessão trouxe. As dores parecem cicatrizadas, mas alguns gatilhos, como as canções de Baco Exu do Blues, ainda me deixam um tanto pensativa. Apenas aprendi a não sentir mais falta de você, nem das loucuras que vivi. Não há nada que um estabilizador de humor e um ansiolítico não possam ajudar. Afinal, o fato é que você pode ter sua culpa, mas a bipolar psicótica sou eu.

Escrevo pra passar a limpo nossa brevíssima história, já que essa não passa de outra carta que você nunca lerá. Siga tendo uma boa vida. Não abandone sua fé. Eu tô seguindo, fazendo o mesmo, escrevendo pra cicatrizar de vez.

Fique bem. Porque eu tô. 

Axé-Shalom!