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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Quero saber bem mais que os meus tantos, tantos anos

Aos 20 e poucos anos, eu achava que eu sabia o que queria.

Aos 30 e poucos, descobri que eu queria outras coisas e achava que já sabia tudo.

Mas agora, aos 40 e poucos, tenho a nítida impressão de que, quanto mais eu sei, mais ainda falta eu aprender...


Esse natal, como o último, foi intimista e agradabilíssimo: só eu, meus pais (e minha mãe dorme cedo) e meus filhos. Também como no ano passado, começamos a almoçar no dia 24 e o pecado da gula se estendeu até o almoço do dia 25 (com a graça de Oxóssi, tivemos mesa farta! 🙌🏽). Dormimos pouco porque nos divertimos até quando deu, mas também porque a vizinhança não deu descanso até o sol raiar... Mas nada disso tirou nosso ânimo pra curtir o dia 25 (apesar do cansaço da caçula, que já ia trabalhar dia seguinte e ainda tava preocupada com o horário de dar remédio pra gata nova - a responsabilidade da Virginiana, rs). 


Depois que a caçula foi pra casa, a "lombra" do almoço bateu em todos e, enquanto meu pai foi deitar um pouco no quarto, ficamos meu filho e eu na sala, ouvindo música na Smartv e conversando. Eu ainda me impressiono como nossas conversas sempre fluem, como se realmente nos conhecêssemos de outras existências, sem falsos pudores, mesmo eu tendo parido e trocado as fraldas daquela pessoa ali na minha frente - sempre foi tudo de igual pra igual, em via de mão dupla.


Conversamos sobre tudo, inclusive sobre nossos relacionamentos - e o relacionamento sério mais longo que tive na vida foi, infelizmente, com o pai dele. Mas eu nunca, mesmo durante os assédios que sofri por anos após pedir a separação, pensei em ficar tentando convencer meus filhos sobre a personalidade do pai - até porque eles eram simplesmente crianças, não tinham obrigação de entender e nem de tomar partido numa guerra que não os cabia. Eu sabia, confiava, que na hora certa, eles iam entender tudo por si. E conversando agora com meu filho mais velho, que está com 22, quase 23 anos, percebi que foi a melhor coisa que eu fiz: não errei em confiar na inteligência deles. E sabe o que é melhor??? Já não há mais amargura da minha parte então, a cada observação que meu filho fazia sobre o pai, nós ríamos juntos! Afinal, em 2024 fará 25 anos que o conheci e ele não mudou nada, mas eu mudei muito: tomei muito "puxão de orelha" de exus, pombagiras, malandros e pretos-velhos nesse período, mas eu finalmente aprendi a levar a vida.


Meu filho também mostrou sua nova certidão oficializando seu nome social - o que foi ótimo pra "esfregar" na cara do meu pai que se faz de "muito informado" mas sismou que nunca tinha ouvido falar sobre isso - o que prova que ele realmente deixa a TV ligada à toa e só presta atenção ao que lhe convém (outro dia cortei um dobrado pra explicar a ele, pela enésima vez, a diferença entre "esquerda X direita" e "situação X oposição", mas isso é outra novela). Aproveitei e conversei ainda mais com meu filho sobre a complexidade da não-binariedade - porque a transexualidade binária já é complexa mas é abordada e discutida há décadas, mas o ser humano construiu a binariedade há milênios (bem e mal, luz e escuridão, sim e não, feminino e masculino e etc) e é até uma questão que a própria Kabbalah questiona (afinal, se Deus é UMA SÓ FORÇA criadora de tudo no Universo, então a ideia de que haveria uma força oposta a Deus seria logicamente irreal). 


- Eu fico pensando: se já é complicado, ainda nos dias de hoje, uma pessoa trans binária se olhar no espelho e entender "por que não me encaixo nesse corpo?" (mesmo com tantos ícones que já são exemplos), fico tentando imaginar a bagunça que não deve ser a cabeça da pessoa não-binária pra tentar se descobrir nessa sociedade que tenta nos formatar em caixinhas...


E deixei meu filho falar. Ele contou todo o processo que passou até chegar à conclusão de sua não-binariedade, dos processos que passou na passagem pelas 2 psicólogas que lhe atenderam, até da suspeita de ter TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade), o que depois ele mesmo descartou. Foram anos de terapia pra finalmente se encontrar em alguns documentários do YouTube e dar seu próprio veredito e se libertar: "É ISSO QUE SOU E É ASSIM QUE QUERO SER CHAMADO". Isso exige muita coragem e, toda vez que vejo o quanto ele é respeitado no trabalho (ao qual se dedica desde criança), me dá UM ORGULHO DUKRLH (ainda mais ao perceber que o preconceito não tem se sobreposto ao talento dele no mundo da dublagem)!! 


Confesso que pra mim, no começo, não foi fácil - primeiro questionei: "você tem certeza mesmo? Não tá só confusa(o)?...". Depois aceitei e busquei aprender - o pior mesmo, no começo, foi acertar o novo nome e os pronomes (afinal, desde o ultrassom na minha barriga eu conhecia aquela pessoinha por outro nome e gênero). Hoje, quando meus pais conversam sobre ele com o nome antigo (que era igual ao da minha mãe), eu já fico perdida e tenho que explicar a eles que eu já não associo aquele nome ao meu filho. E minha mãe ainda pergunta: "como é que vc aceita um 'absurdo' desse???", e isso me faz pensar que tipo de mãe ela é, sabe?


Porque a verdade é que, PRA MIM, ser mãe é ter o coração literalmente batendo fora do peito - e como não amar um pedaço de si mesma? - e eu amo e me orgulho tanto de meu filho Luke como de minha caçula Sofia com tanta intensidade que não sei nem expressar, e sou capaz de ir contra qualquer pessoa que tentar qualquer coisa contra eles, e sinto que minha missão é apoiá-los naquilo que eles decidirem na vida (afinal, já são maiores de idade), porém, tentando contribuir com os conselhos inspirados em minha experiência de vida.


Enfim, chegou a hora de meu filho ir. Nos despedimos, agradeci mais uma vez pelo presente maravilhoso (um jogo de panelas que já me fez planejar mil receitas! Hahahahah), mas acima de tudo, pela presença: "não some não que eu sinto saudade..." - eu disse mesmo sabendo que ele é o Pisciano mais ascendente e Lua em Capricórnio que conheço. Mas fui sincera.


E assim foi meu natal, tomando cerveja com meu filho, falando da vida (até de coisas que não cabem aqui), aos 43 anos recém-completos e ainda aprendendo com a experiência de vida de um jovem de 20 e poucos anos - que, ao contrário de mim, sabe muito bem o que quer.


Que presente ter filhos assim...


Axé-Shalom-Amém!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Novo Tempo 2

Aniversário, natal, ano novo... Sempre vivi essas datas "agarradinhas" e pra mim, quase são partes de uma coisa só. 

Pra muitos, é o tempo de novas promessas, sempre vejo muitos fazendo listas de metas para o ano que vai começar (e depois reclamando que não cumpriram nada), mas como eu nunca confiei em mim mesma, nunca na vida havia me debruçado nessa tarefa - até que esse ano resolvi fazer.

E acho que foi aí que entendi o porquê de nunca ter feito lista de metas pro ano novo antes: eu não consigo me limitar a ciclos. Quando aquela vontade, aquele furor de fazer algo se acende em mim, eu simplesmente não consigo esperar que determinada data chegue como se fosse transformar minha vida. Claro que isso não impede que eu faça minhas "mandinguinhas" de virada de ano, como boa "macumbeira" que sou, mas mal insiro um projeto na minha lista de metas, já me dá um comichão tipo "ué? Por que esperar virar o ano se posso iniciar agora??" (e nisso já iniciei 3 ou 4 ideias que podiam esperar essa loucura de festas de fim de ano passar...).

Uma das metas era tentar me abrir à ressocialização. Ultimamente andei perdendo tanta fé na humanidade (o que inclui em mim mesma) que acabei me isolando demais - não dá pra conversar sobre memes com meus pais e mal consigo espaço na agenda dos filhos que estão trabalhando, viajando, namorando, curtindo a vida, enfim (é a parte que não contam sobre ter filhos adultos). Então tomei coragem e pensei "por que não voltar ao aplicativo de relacionamentos?...". Mas sem compromisso de encontrar um par romântico, só uma tentativa de encontrar gente bacana pra conversar, passar o tempo, sei lá. (Claro, se as coisas se desenvolvessem, por quê não? Mas não era o foco.). Pois bem, instalei o app, montei o meu perfil despretensioso e... Não deu 24 horas pra eu lembrar do porquê d'eu ter desinstalado 1 ano atrás. Fiquei um tempo refletindo se o problema era realmente eu, se eu não estava sendo ranzinza como meu pai Obaluaê me fez, mas puxei conversa, fiz piadas, etc e tals... Mas a verdade é que as pessoas já não se importam em se relacionar, só usam o aplicativo como menu de cópula e sequer fazem esforço pra demonstrar merecer a oportunidade disso. AFF, que cansativo... Mas, enfim: minha meta de me abrir mais às pessoas já foi iniciada, já estou abrindo meu peito a novos afetos e daqui em diante é desenvolver - com a sabedoria que a experiência de vida me deu.

Da lista já iniciei também outros planos - que não vou anunciar aqui até se concretizarem - mas a conclusão que tiro é que eu não preciso de uma data especial pra começar a mudar de vida: quando eu vejo, meu coração já tá lá, empenhado em realizar, seja qual for a época do ano, seja qual for a idade: todo tempo é tempo, toda hora é hora!


Se não nos vermos até lá, feliz natal!

Axé-Shalom-Amém!

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

"Novo Tempo" - Ivan Lins

"No novo tempo
Apesar dos castigos
Estamos crescidos
Estamos atentos
Estamos mais vivos
Pra nos socorrer
Pra nos socorrer
Pra nos socorrer
No novo tempo
Apesar dos perigos
Da força mais bruta
Da noite que assusta
Estamos na luta
Pra sobreviver
Pra sobreviver
Pra sobreviver
Pra que nossa esperança
Seja mais que vingança
Seja sempre um caminho
Que se deixa de herança
No novo tempo
Apesar dos castigos
De toda fadiga
De toda injustiça
Estamos na briga
Pra nos socorrer
Pra nos socorrer
Pra nos socorrer
No novo tempo
Apesar dos perigos
De todos os pecados
De todos enganos
Estamos marcados
Pra sobreviver
Pra sobreviver
Pra sobreviver
Pra que nossa esperança
Seja mais que vingança
Seja sempre um caminho
Que se deixa de herança
No novo tempo
Apesar dos castigos
Estamos em cena
Estamos na rua
Quebrando as algemas
Pra nos socorrer
Pra nos socorrer
Pra nos socorrer
No novo tempo
Apesar dos perigos
A gente se encontra
Cantando na praça
Fazendo pirraça
Pra sobreviver, ah
Pra sobreviver
Pra sobreviver"

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

A Cartomante

Eu estava em minha antiga casa e de repente o céu escureceu, uma tempestade se armou, e eu não lembro o porquê mas eu sabia que tinha que fugir pra longe dali. Eu só sentia muito medo, sem saber onde me abrigar. Parecia que aquela tempestade me seguia por onde eu ia... Até que percebi uma ou outra telha se desprender de casas vizinhas e o desespero tomou conta de mim: segui meu instinto de sobrevivência e me escondi debaixo de uma cama que se encontrava ali na rua mesmo, e dali observava o caos se espalhar pelo bairro, rezando para que não me encontrasse ali. 

E foram realmente alguns momentos de pavor, e quando tudo foi passando e eu me tranquilizava, passei a prestar mais atenção às coisas à minha volta: havia muito lixo trazido pela ventania, coisas apodrecidas... Até que encontrei algo que me chamou atenção: um boneco de plástico que tinha uma abertura atrás. Eu sabia que aquilo não era nada bom, mas fiz questão de ir a fundo: na abertura feita atrás do boneco, havia vários elementos amarrados, e o que me chamou atenção foi ter também um nome de alguém escrito ali. Me parecia magia feita, e até pensei em perguntar a alguém se conhecia aquilo, mas simplesmente desisti de fazê-lo; apenas me empenhei a esvaziar o boneco e destruir o amarrado que encontrei, rasgando, inclusive, o papel que tinha o nome escrito (sei que não é o procedimento correto pra desfazer qualquer tipo de magia, mas foi o que meu coração mandou fazer).

Eu tenho há tempos contato de bons cartomantes, mas eu queria companhia pra talvez ter mais coragem (jogar pra mim mesma, ainda mais impressionada, é sempre bem difícil na hora de interpretar). Eu também queria encontrar alguém que lesse Baralho Cigano pra mim, que ainda não domino tal qual o Tarot de Marselha, e quem sabe assim, até aprender um pouco mais. Ele tinha suas angústias também, então sugeri: "por que não vamos juntos?". Ele não acreditava e nem duvidava, talvez por um certo medo da mãe, que era religiosa. "Ora, mas quem precisa saber?". A consulta era presencial e foi toda programada pra que eu pegasse um voo que eu tinha marcado naquela data. Por isso, deixei ele ir na frente (afinal, ele mesmo dizia que o caso dele seria rápido).

Só que não foi. Esperei por um bom tempo do lado de fora, mas de repente me vi na saleta da consulta: era um local bem claro, paredes brancas, nenhum tipo de decoração. Ele estava debruçado na mesa de cabeça baixa, consternado: "mas por que eu não consigo?... Por quê???". Em cima da mesa, uma tiragem de 9 cartas, a cartomante ia explicando e mostrando cada carta, com a paciência de uma mãe:

- Você pode tentar fugir, mas é inútil! Tá vendo essa carta das Estrelas? Quer dizer que é uma união espiritual. Você a ama, e muito! É como se vocês fossem um só. Mas não há que se preocupar com isso... Aqui vejo que você tem medo, que algo foi quebrado, mas que você pode confiar - tá vendo essa carta do Buquê? O problema é que você encontrou nela alguém que exerce tanto poder sobre as pessoas quanto você e isso te deixou inseguro... Tá vendo essa carta das Nuvens? Nesta posição ela indica a sua confusão...

E quando me dei conta, eu tava ali, lendo toda a tiragem, entendendo como se eu realmente soubesse ler BC. As cartas brilhavam pra mim, a cartomante explicava cada uma mas era como se eu já soubesse... E tudo que eu queria era apressar minha consulta, afinal eu ainda estava com medo de me terem feito magia e já tava dando a minha hora de ir pro aeroporto e sequer ia poder me despedir dele... Só que eu estava TOTALMENTE INVISÍVEL. Ninguém me percebeu na saleta... Foi quando me percebi "sobrevoando" a cena, como se eu flutuasse, mas tudo enfim estava fazendo sentido. Quando me dei conta, eu já estava no aeroporto, caminhando satisfeita ao avião, numa videochamada com minha mãe: "ó, não deu pra me despedir, mas quando eu chegar lá, eu ligo! Pode falar pra ele que eu ligo...".


Acordei. Fui fazer café ouvindo um desses aplicativos de vídeos curtos. Não sei porque, ultimamente o algoritmo tem me enviado vídeos de um filósofo que fala sobre Ética nos Relacionamentos - acho até que algumas coisas que ele fala fazem muito sentido, mas no geral, só o acho meio canalha mesmo. No entanto, hoje caiu pra mim um vídeo que quase passei (mas eu estava com as mãos ocupadas com o coador de café) e no final, me fez refletir: o que não é esse tal de Amor Romântico senão a ideia que nós criamos de uma outra pessoa? E se, desde o começo, a enxergássemos como ela realmente é? E se nós também nos permitissemos ser quem realmente somos? Quantos relacionamentos tóxicos e dependentes não evitaríamos? 

Eu só queria dizer: pronto! É isso aqui o que sou. Uma artista intelectualóide que acredita em Orixás, Big Bang, e "casos do acaso bem marcados em cartas de Tarot". E que ainda olha pro céu, como aquela garotinha que nunca deixou de ser, esperando que desça finalmente a nave de seu planeta na Terra pra vir lhe buscar de volta com aquele que lhe fôra predestinado.


Axé-Shalom-Amém!

sábado, 2 de dezembro de 2023

Intolerância Alimentar

Eu já andava sentindo um mal estar crescente, num tempo que eu já nem sabia precisar ao certo - eram sintomas crescentes que já estavam me levando a me sentir como que apodrecendo de dentro pra fora, um sono fora do comum. "Bem", pensei, "pela minha idade, podem ser sinais de menopausa, né? Já está chegando a hora..." e a ideia até dava um certo alívio pois já estou satisfeita com meus dois filhos maiores de idade. Mas o desconforto e o desânimo eram grandes demais, achei que era o melhor momento de marcar um check-up (coisa que não fazia havia anos) e marcar com o ginecologista pra pedir conselhos sobre os desconfortos.

Os exames do check-up ficaram prontos e a data marcada com o clínico geral foram bem anteriores à data marcada com o ginecologista, e lá fui eu levar os resultados pro clínico bem tranquila, já que tudo parecia tinindo (ao menos comparado aos valores de referência). Tirando uma leve leucopenia (queda de glóbulos brancos, provavelmente influenciados pela medicação que tomo), os residentes que me atenderam na UBS também se mostraram satisfeitos com os resultados e, enquanto registravam detalhes no meu prontuário eletrônico, mediam pressão arterial, essas coisas, iam conversando comigo e insistiram, não sei porquê, em saber como eu estava me sentindo.

Respondi: "estou bem, estou bem... Tirando umas coisas chatinhas... Mas acho que já deve ser menopausa", e ri. 

- "Coisas chatas"? Tipo o quê, exatamente?

- Nada demais, - minimizei - só uma péssima digestão... Eu sempre comi bem e agora tô com "nojinho" de certas comidas. Mas já tô com consulta marcada com o ginecologista pra tentar entender melhor isso...

Eram 3 os residentes que estavam ali, me atendendo. E talvez pela curiosidade de estudantes, começaram a pedir que eu me aprofundasse nos meus sintomas. Mas aí é que tá: eu não sabia explicar direito, eu só sabia minimizar. Então eles mesmos começaram a me bombardear com perguntas sobre como eu me sentia (com detalhes) ao comer, o funcionamento do meu intestino, quais alimentos estavam me inspirando nojo, e foram me bombardeado com várias perguntas (afinal, eles eram 3; eu, uma só), só que a cada pergunta, eu tinha a sensação de que eles estavam lendo algo em mim que eu, obviamente, não tava enxergando. "A Sra. sente enjoos? Vômitos?", "sente tonturas?", "sensação de desmaio?", "crises de ansiedade?" (essas que eu já não tinha havia anos)... Até das palpitações perguntaram!! E eu só embasbacada, respondendo: "sim... Sim... Nossa, SIM!!". Eu só não sentia os famosos "calores" da menopausa... Devem ter sido uns 25 minutos de"entrevista", então sugeriram apalpar meu abdômen e sentiram alguma alteração no meu fígado. Fiquei um pouco apreensiva. Então, depois de tudo registrado no prontuário, foram chamar o médico chefe do plantão pra dar o veredito. 

Os jovens residentes passaram todos os meus detalhes ao médico-chefe e não tive tempo nem de pensar em nada: ao ouvir todos os meus sintomas, o médico foi categórico: "olha, isso obviamente são sintomas de intolerância alimentar. Só não dá pra saber a quê exatamente, mas provavelmente tem ligação aos alimentos que a têm deixado enjoada...". Na hora me lembrei que uns 15 anos atrás, eu tinha sido diagnosticada com INTOLERÂNCIA À LACTOSE, cheguei a fazer dieta por vários anos, mas certo dia resolvi comer um prato de estrogonofe e, como não senti nada, não achei nada demais matar a vontade de vez em quando... O problema foi que, com o passar dos anos, sem mais sintomas, comecei a achar que aquele diagnóstico era um exagero e quem começou a cometer exageros fui eu, me enchendo de todo tipo de laticínio possível - até o dia que meu filho mais velho me deu meio pote de Whey Protein e eu simplesmente vomitava logo após tomar. Mesmo com as evidências, continuei ignorando e agora... Eu tava daquele jeito.

O médico encaminhou para exames pra descartar problemas no fígado - eles demoram, mas pelo menos o ultrassom do abdômen já fiz e tá tudo bem. Agora faltam os exames de sangue que estão marcados, mas é pelo SUS e, por mais que eu seja uma entusiasta, sou realista: tudo demora.

Já sabendo do problema com a lactose, saí do consultório decidida a modificar minha alimentação. No entanto, eu ainda não melhorava (eu sei que o organismo demora a desintoxicar). Pensei: "será que também pode ter a ver com glúten? Porque também tenho uns sintomas que saem um pouco dessa curva...". E VOU CONFESSAR A VOCÊS, MEUS AMIGOS: retirar o glúten da dieta é muito mais difícil, porque parece que tem glúten em TUDO no planeta!! Tive que abrir mão não só do meu pãozinho francês, mas também de mortadela (que eu amo), salsicha, presunto, macarrão... Bem, algumas dessas coisas eu já peguei nojo mesmo, é incrível como o organismo rejeita... E tem uns temperos "inocentes" que quando a gente vai ver, tem glúten. O pior é que descobri da pior maneira possível: foi só botar na comida que começou a me dar um comichão pelo corpo todo, dores nas articulações, vermelhidão e inchaço em pés e mãos. Um dia, depois de uns dias de dieta, minha mãe fez empadão de carne moída (temperada com um caldo de bacon que é uma delícia - tradição de domingo) - tudo ainda era recente, lá veio Satanás me atentar e pensei "ah, só hoje... Volto pra dieta amanhã...". Pois até que fui comedida e não exagerei, mas a coceira e as dores na coxa foram imediatas; fui deitar pra descansar e comecei a sentir palpitações, minha pressão baixou; logo em seguida fui ao banheiro, e tomei um susto ao olhar no espelho: meu colo estava todo vermelho. Fui mostrar pra minha mãe pra confirmar que eu não tava doida, notei outro fato curioso: apenas uma das minhas mãos estava inchada, a outra continuava magrela como sempre. Bem, ainda tentei comer outras coisas com lactose e/ou glúten de lá pra cá, sei lá, só pra provar pra mim mesma que tô doida, até porque, não vou mentir: ter a alimentação tão limitada é oneroso e muito trabalhoso (eu tenho feito tudo em casa pra minha alimentação sair mais barata, mas mesmo assim, não é fácil). Às vezes eu tô morrendo de fome e só queria um lanchinho fácil, e só de pensar que tenho que ir pra cozinha fazer "mágica " até me tira o entusiasmo que tenho em cozinhar... (Sem falar das ciumeiras que tenho que enfrentar só porque tenho que fazer minha comida separada do resto da família, enfim...)

E não é só lactose e glúten que tô evitando: também tô evitando muito açúcar, alimentos com muito corantes e conservantes, até o café reduzi drasticamente pra evitar mal estar, mesmo tomando o omeprazol receitado pelo médico. Tô fugindo de endoscopia como diabo da cruz... Não tá sendo nada fácil, amigos, apesar de algumas melhoras (minha menstruação voltou ao normal e não tenho mais queda de cabelo, pelo menos)... Mas nada fácil... 

Mas eu sou forte. E como diz o Salmo 11, "o Senhor prova o justo (...) e ama a Justiça". Não foi o que Ele fez com Jó? E quem sou eu pra ter mais regalias?... Deus nunca nos dá fardos mais pesados que aqueles que podemos carregar.

Saúde a todos nós!

Axé-Shalom-Amém!


(Atualizações: mesmo com toda a dieta em dia, voltei a ter alguns sintomas, principalmente dores nas articulações, dor no estômago, enjoo e fadiga. Aliás, passei a ter até outros sintomas que não tinha antes - pelo menos, não tinha reparado, tipo alterações dermatológicas que não sei que nome dar. Também tenho tido muitas espinhas no rosto, coisa que nunca tive. Acho que há alguma outra coisa que tá me fazendo mal e eu não tô reparando - será ovo? De qualquer forma decidi me dar, ao menos essa semana, um "refresco" e me liberar o pãozinho pra ver como vai ser, depois voltar a retirar e continuar observando.)