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domingo, 1 de outubro de 2023

"Nothing really matters to me..."

Eu realmente tenho sido, de fato, uma guerreira: desde a descoberta de novas intolerâncias alimentares (eu já convivia com intolerância à lactose há mais de 10 anos mas descobri recentemente sensibilidade ao glúten), meus dias têm sido muito cansativos: buscar na internet sugestões de receitas práticas (e, claro, baratas), passar horas na cozinha pra prepará-las (inclusive pra acondicionar no congelador), anotar todos os dias o que como pra saber o que pode ainda me fazer mal ou não... E agora tá pior ainda, pois estou vivendo o "desafio do glúten": retomar o glúten à dieta pra observar os sintomas. O que posso dizer??? É que estou PÉSSIMA! Mas tenho ainda que aguentar algumas semanas até a data marcada dos exames pra confirmar a alteração no meu fígado, constatado pelo médico no último exame clínico. 


Isso é chato? Com certeza é, porque minha vida ainda está limitada pela lactose e algo mais que me tem feito mal e não identifiquei, mas tenho me sentido muito mal, com sintomas dos mais diversos, desde gastrointestinais a articulares, passando por inchaços e urticária. Tem dias que mal consigo sair da cama... Mas o pior de tudo é ouvir de todo mundo que o que tenho é "frescura". Já tive cólicas homéricas, já tive crise de vômitos, mas quando "a poeira baixa", minha mãe fica o tempo todo me jogando na cara que não faço mais nada e quando faço, é minha comida separada do resto da família (como se isso fosse um privilégio!). Isso me deixa triste e me sentindo cada vez mais solitária, sabe?... Ao menos agora, tenho de volta meu cantinho na varanda pra não ter que aturar ninguém.


A verdade é que, desde sempre, minha mãe sempre demonstrou ter esse sentimento esquisito em relação a mim: uma espécie de inveja, sempre tentando diminuir tudo que faço ao mesmo tempo que tentando exigir de mim lealdade. Até pra eu admitir isso pra mim mesma é difícil, porque certa vez, ainda na adolescência, tentei desabafar com uma amiga da época, e ela me repreendeu: "Não fala assim que Nossa Senhora não gosta!...". Meu Deus, como as relações maternas sempre foram romantizada, né? Demorou pra eu sentir segurança, depois de quase 30 anos, pra falar abertamente sobre essa minha relação doentia com minha mãe, e só porque foi com minha psicóloga. Achei que ninguém melhor pra entender essa situação do que uma profissional da saúde mental (a única que ficou ao meu lado e levantou minha autoestima quando contei da minha nova rotina cansativa em prol da minha saúde)... Inclusive, foi num questionário de personalidade que minha psicóloga quis entender o porquê d'eu não me sentir digna de ser amada. Travamos nessa questão porque eu não soube o que responder e acabou o tempo da consulta. Ficou pra próxima.


Mas retornando à outra questão, o ponto não é só a esquizofrenia da minha mãe, mas também algum tipo de transtorno de personalidade não-diagnosticado, porque, observando-a melhor no dia a dia, ela muda de "personagens" (com posturas, olhares, tons de voz, TUDO) completamente pra ter exatamente o que quer, tudo de forma muito bem orquestrada. Eu acho que nunca tinha observado minha mãe por um olhar tão clínico e até frio. Minha mãe se incomoda muito de me ver na cozinha por me ver sendo mais ágil e criativa que ela nas panelas (até com as minhas restrições alimentares) e quando eu entro, ela logo se ausenta. Punha defeito em qualquer tempero diferente que uso, até que viu ser inútil, porque esse mesmo tempero agradou aos outros. Então começou a querer comer da comida que eu fazia separada pra mim (já que eu não podia comer pães, queijos, etc) - quis fazer escândalos EXATAMENTE como criança pequena fazendo birra. Meu pai teve que intervir e eu passar a deixar tudo meu fora do alcance dela. Comecei a reparar a "tática de retaliação": fazer comida só pro meu irmão (que, convenhamos, não ajuda em NADA em casa). E não adianta tentar sentar e conversar com ela: ela já responde aos gritos, dizendo que não quer saber, etc e tal. Nessas horas ela esquece quem é que faz e carrega o peso das compras que ela gasta, quem limpa a casa que ela bate no peito que é dela na primeira oportunidade, até mesmo quem lhe dá o braço como apoio pra levá-la ao médico. A verdade é que, não importa o que eu faça de bom, pra minha mãe eu nunca prestei e nunca vou prestar. E foi assim a vida toda: toda a minha alegria em levar pra ela minhas notas altas, premiações da escola e fora dela, realizações acadêmicas e literárias sempre, sempre, SEMPRE levaram um balde de água fria porque, pra ela, nada daquilo me daria futuro (só um marido que talvez me desse um "jeito"). Mesmo que esse marido fosse abusivo e me levasse à depressão ("ainda acho que você devia voltar à 'sua família'", ainda diz ela sobre o "ex-encosto", mesmo depois de mais de 12 anos que pedi a separação, com os filhos já maiores de idade e morando sozinhos). 


A terapia pra mim tem sido muito importante: mais do que apenas ter a oportunidade de ser ouvida, também por ter a orientação de como ME ouvir melhor. Eu estava na cozinha, tentando preparar um lanche rápido que não me fizesse passar tão mal, enquanto minha mãe estava preocupada em fazer algo para meu irmão - eu me sentindo embrulhada,  esgotada e lembrando que eu ainda tinha que estender minha roupa no varal (porque até isso já tinha virado discussão e hoje lavo e estendo minhas roupas separadas dos demais). Pude sentir de novo aquela solidão imensa brotar de dentro do peito e enrubecer minha face. Lembrei então da mais tenra infância: "É... Isso sempre foi assim mesmo...". Em seguida, um lampejo me trouxe à memória o questionamento da psicóloga:


- Mas por que você não se acha digna de ser amada???...


"Mama, ohhh
I don't wanna die,
I sometimes wish I'd never been born at all..."


Às vezes as fichas demoram a cair, não por falta de esperteza nossa. Mas simplesmente porque tem muita gente manipuladora no mundo... Mesmo onde a gente menos espera (e deseja).


Nunca mais, "mamãe"... Nunca mais.


"Anyway the wind blows..."

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