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sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Fechamento do Nise da Silveira

 É, eu passei por lá no meu surto psicótico. Não é o que se possa chamar de instituto hospitalar, até porque tudo está sucateado pelos governos. Mas conheci lá gente interessantíssima, que eu gostaria de manter contato, mas como eram proibidas as canetas, não havia como anotar. Conheci a Cristiane, que chegou a me dar sandálias diferentes daqueles chinelos pretos que eram padrão. Mas eu tive uma crise e comecei a desconfiar dela e brigamos. Fiz outra amiga borderline e com ela consegui manter contato, mas eu nunca sei como ela tá, o que me dá gatilho. Então decidi só deixar ela me procurar. 

Fui muito bem tratado pelos funcionários, tive uma percepção diferente da assistente social (que foi mais minha psicóloga que outra coisa, não sei se isso é bom ou mau), descobri um colega de faculdade fazendo residência ali, e pensei no que eu tava perdendo. Vivi muitas coisas, inclusive visitei o museu Nise da Silveira, mas o que mais me marcou foi meu primeiro encontro com meus pais após eu cair em mim. Me veio à mente tudo que fiz durante os surtos, pedi e recebi perdão, entre minhas lágrimas abundantes. 

E depois a alta!

Tudo vai ao chão, mas o que passei ali fica aqui. 


Axé-Shalom!

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Ho'oponopono

 Pois é, o tempo passou, e é natural que cada um seguisse seu caminho. Confesso que não resisti e fui ver por onde seus caminhos o levaram. 


Fiquei feliz em saber que você está bem, mudou de vida, trouxe os seus consigo. Está amando, e por mais que eu sentisse uma pontinha de ciúmes, não me doeu. Sério, eu sempre soube que eu não era pra você - como você mesmo disse, anos atrás, que "não tinha paciência pra essas coisas" quando contei do meu Transtorno Bipolar. Eu só não queria ter saído da sua vida, ainda mais do jeito que foi.


Bastou uma discussão na internet - ah, essa internet - num momento em que eu estava em surto sem saber. Eu errei a mão, eu sei, e também sei que não há nada que justifique. Eu fui dura. Muito dura. Principalmente porque eu conhecia seus pontos fracos e me utilizei deles num momento em que você já estava fragilizado. Só hoje eu entendo. E é isso que mais me dói. 


Mas hoje você está feliz e isso me deixa feliz também. Eu só queria (MUITO) que você me perdoasse, mas também sei que você não quer e não tem interesse. Afinal, você não precisa mais de mim e nem de pessoas como eu. E como eu sei? Eu tentei. Tentei te pedir perdão, tentei voltar pra sua vida, mas você me ignorou. Pensei em tentar mais uma vez, mas tenho medo que você me bloqueie de vez e eu não possa mais te acompanhar. 


Então é assim que a gente fica - que nem aquele dia chuvoso na Central do Brasil, em que você me ofereceu de amendoim a cerveja e eu em jejum religioso, sem poder aceitar. Vivemos tantos momentos, uns bons, outros nem tanto. Momentos que me ensinaram muito - e hoje, tudo o que eu queria era que você ao menos lesse essa carta, dentre tantas outras que escrevi pra você ao longo de alguns anos. O tempo passou, tudo mudou, mas você ficou. E eu não sei mais o que fazer com isso, a não ser escrever e sentir culpa por tudo o que fiz.


Então fica bem. Qualquer dia volto a te acompanhar novamente. Só pra saber que você está cada vez melhor sem mim.


Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Sou grata. 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Resista!

 Resista, ainda que a Esperança pareça ter batido asas pra longe!


Resista, ainda que tudo ao redor pareça cinza!


Resista, ainda que tudo que se deseje seja o fim!


"Todo fim é um recomeço". Hoje acordei lembrando das muitas coisas erradas que fiz durante o surto, das pessoas que eu magoei, das coisas que fiz contra mim mesma. E eu não devia mais estar presa a esse passado, já que foi um ciclo que se fechou lá atrás. Mas eu não consigo recomeçar. É nesse momento que fico desejando o meu próprio fim. Não aguento mais carregar esse fardo sobre meus ombros doloridos.


Meu corpo dói, minha alma dói, e pra isso parece não haver remédios capazes de fazer sarar. Minha própria existência sangra, e tudo que eu quero é não mais sangrar.


Mas RESISTA! É o que o mundo diz. O pior é que vejo tantas pessoas cheias de sonhos e sorrisos indo embora enquanto eu, um peso morto neste planeta, não sou levada de uma vez.


É, pois é, não acordei nada bem. Pelo menos hoje eu consegui levantar da cama e ajudar a fazer o almoço. Distraiu minha mente e me senti um pouco menos inútil. Mas agora já voltei pra cama revirando pensamentos, me apequenando diante do mundo e sem conseguir gritar o que ao certo estou sentindo. 


Eu só queria o fim. Não sei bem do quê, talvez o fim pro meu próprio recomeço, talvez a morte da semente pra voltar a germinar.


Talvez só meu fim mesmo. Eu estou aqui fazendo o quê?


Mas RESISTA! É apenas o que se espera de alguém em depressão. 


Tudo bem, eu resisto.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

O deus Tempo

 Tempo é o que mais tenho tido nesses últimos 2 anos. Só não tenho tido paz.


Onde está aquela mulher que eu era? Será que todas aquelas manias de perseguição durante o surto a desconstruiu?


Só sei que hoje vivo como uma criança medrosa, dependendo daqueles que eu considerava me adoecer - sim, meus pais. Aliás, muita coisa mudou na minha relação com eles: tudo melhorou consideravelmente, e hoje compartilho afeto com aqueles pelos quais eu vivi uma vida inteira de mágoa profunda. Foi como se eu tivesse que passar por um surto psicótico para que as coisas melhorassem entre nós. Eles tiveram que quase me perder e eu tive que quase perdê-los para que valorizássemos nossa relação. Só que agora me sinto uma criança dependente deles, como nunca fui antes. Logo agora, que mais preciso de asas pra voar.


Às vezes eu queria voltar a ser internada pra ver se me curava desta dependência que me faz não querer sair da cama. Me encarcerar pra me libertar. Voltar a ser quem eu era, não ter que me sentir tremer da cabeça aos pés só de pensar em encarar o mundo sozinha. E quando penso que o tempo está passando, mais me angustia por não ter mais tempo a perder. O que estou fazendo aqui parada, a não ser me encher com os remédios que o psiquiatra me listou? Pra onde esses psicotrópicos vão me levar?


"Não reconheço mais o meu coração, mas não que ele se recusasse a bater..." - ando viciada nesta música. Mesmo que o resto dela já não me represente mais (porque já não sinto mais saudades), só essa frase sim tem me representado. Meu coração bate sim, mas PELO QUÊ? 


Eu só queria saber pelo que meu coração bateria agora. "Onde está o meu coração?".


Eu queria dizer que nunca fez tanto sentido. Mas não tem feito sentido. 


Salve-me, Tempo! Tempo,Tempo, Tempo, Tempo... Salve-me!


Shalom! Axé!