Pesquisar este blog

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

"I say hey! What's going on?..."

Tem muitas coisas e sensações passando por mim ultimamente... Recebia diversos sinais da Espiritualidade, principalmente através de sonhos, mas nada estava se encaixando nesse quebra-cabeça. Até que eu estava praticando o ato mágico de cozinhar e tudo veio, num insight instantâneo...

Há várias semanas (talvez 2 meses), coloquei no plano de fundo do celular uma imagem cheia de símbolos que atraem sorte, entre eles o deus hindu GANESHA, bem ao centro e acima. Pra quem não sabe, GANESHA é o deus da sabedoria e da fortuna, entre outras benesses. 

Poucos dias depois, conheci e me envolvi com um cara pela internet: conversamos por umas 2 semanas por Whatsapp e tudo parecia perfeito e ele confiável (afinal, eu já tava cansada de sofrer por amor). Marcamos um encontro na casa dele. Esse carinha disse que sua falecida mãe era muito mística e, quando faleceu de COVID, deixou muito material com esses temas, mas ele não gostava do assunto e estava até vendendo as coisas dela. Nesse nosso encontro, ele me deu um livro sobre os Arcanos Maiores do tarot de Marselha (que ele ignorou que eu conheço de cór), um baralho cigano (que eu sempre quis comprar pra aprender) e um pequeno bibelô de GANESHA, que eram da mãe. Fiquei tão surpresa com os presentes que até mostrei meu celular pra ele, mas ele parecia mesmo não se interessar. Depois fiquei um tanto receosa, porque tinha a energia de uma falecida que eu nem sequer conheci. Ao chegar em casa, trabalhei bastante na limpeza energética dos objetos e botei esse pequeno GANESHA do lado da minha cama, com fé nos rituais e nos meus protetores. 

O relacionamento só durou esse encontro e mais 3 dias de discórdia pela internet. Preferi então dar um tempo pro meu coração e mente, e pra me distrair, depois de uma ou duas semanas, resolvi assistir a série Sense8 desde o começo, já que não consegui ir até o final na primeira vez que acompanhei. Então, uma das primeiras cenas da personagem Kala, na Índia, é ela levando uma oferenda ao templo de GANESHA - e durante toda a série, a personagem se mostrou totalmente ligada a esse deus hindu, com muita fé, orando a ele nos momentos de maior angústia.

Uma das músicas-tema de Sense8 é "What's up?" de 4 Non Blondes. Tudo ia bem até que certa pessoa que não vejo há muito tempo voltou aos meus pensamentos, inclusive em alguns sonhos (talvez por eu ter feito a besteira de acompanhar leituras astrológicas e de tarot na internet) principalmente enquanto eu assistia a Sense8, e sua presença foi ficando cada vez mais forte a cada episódio da série que eu maratonava avidamente. E desde então tenho tido muitos sonhos mediúnicos, visto muitas horas iguais e a música do 4 Non Blondes toca do nada - dentro da minha cabeça, em rádio em casa, no supermercado, e até na TV, muitas vezes quando parece que essa tal pessoa tá querendo "falar" na minha mente.

Deixei minha mediunidade de lado depois da internação pra tentar levar uma vida normal ou, no mínimo, me reconstruir antes de voltar a esses trabalhos. Mas são tantas coisas acontecendo (e eu sem entender), que fica difícil não me sentir louca...

Ah! E esse é apenas um dos enigmas quase resolvidos. Ainda há a questão da CORUJA (meu animal xamânico de poder)...

E assim, vamos vivendo...

Ei! Se você quiser falar comigo, eu tô aqui!! Hoje em dia tenho medo e vergonha depois de tudo que fiz...

OM GANAPATAYE NAMAHA

domingo, 27 de novembro de 2022

Luzes de Natal

As luzes de Natal começam a surgir, eu já sei que meu aniversário está chegando: 42 anos. Parece pouco, mas não pra quem tem muita história pra contar. Tudo isso por ter vivido de forma muito intensa. Sempre vivi em forma de impulsos. 

Aliás, minha vida sempre foi isso: um grande e profundo impulso.

Minha vida inteira foi dividida entre medos paralizantes e coragens impulsionadoras. Nunca fiz ideia de onde minha vida ia me levar, mas mesmo quando a depressão me tomava, eu tinha em mim uma certeza lá dentro que algo extraordinário me aconteceria e transformaria a minha vida.

Bem, o tempo passou e nada de extraordinário me aconteceu - tipo ganhar na Mega-Sena ou me tornar uma estrela de Hollywood - mas mesmo ultrapassando barreiras que poucos alcançaram, por um tempo recente perdi toda aquela minha esperança de algo extraordinário acontecer e transformar minha vida.

Na verdade, sim, em determinado momento eu perdi tudo na minha vida. Por um tempo perdi até a sanidade e a autonomia. Nada foi mais desafiador. E até isso superei. Mas aquela esperança que fazia meus olhos brilharem não retornavam. Tenho que começar tudo de novo e nem ao menos sei por onde começar...

Olho no espelho, pros cabelos cada vez mais grisalhos, e sinceramente vejo memória em cada fio branco. Minha mãe diz pra eu pintar os cabelos, isso até poderia me ajudar a conseguir um emprego, mas não consigo pintá-los. Esses cabelos brancos hoje fazem parte do que sou e contam a minha história, além d'eu não querer fingir mais nada na minha vida, ainda mais a essa altura.

Pois é isso, meus amiges: hoje não tenho emprego, não tenho diploma, não tenho mais casa... Mas, ao contrário do ano passado, de alguma forma estranha, olho as luzes de Natal com a velha esperança brilhando nos olhos mais uma vez, aquela esperança de quem se prepara para algo extraordinário. E daí que estou ficando mais "vivida"? Ou melhor, mais VELHA mesmo, porque não devíamos ter vergonha de envelhecer - ainda mais envelhecendo bem como provavelmente estou (visto pela minha aparência jovial que todos comentam).

No fundo, assistindo do alto do morro as luzes de Natal a piscar, ainda sou aquela menina que acredita em algo extraordinário que virá a acontecer. 

Afinal, nada na minha vida foi programado, tudo foi construído sobre os alicerces dos meus impulsos... Todas as minhas imprevisibilidades diante dos acontecimentos... Por que algo extraordinário ainda não pode me acontecer, transformando todo o meu status quo?

Quem sabe EU MESMA ainda não tenha tempo de construir esse acontecimento extraordinário?...

Quem sabe? Vou deixar essa pro Papai Noel...

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Como vai você?...

Pois é, já faz tempo que a gente discutiu, brigou mesmo, e em público. Eu estava triste e decepcionada com as fofocas que me fizeram sobre você - no começo eu nem acreditava, mas hoje, pensando melhor (principalmente sobre as fontes das fofocas), creio que não era tudo isso não. Mas já é tarde, né? Brigamos, perdemos contato, mas a verdade que eu também não sabia era que eu estava em surto psicótico, desconfiando de todos os que me eram próximos e causando desentendimentos, entre outros danos.


O que você não sabe é que meses depois fui internada. Fiquei 2 meses nessa porque me recusava a tomar os remédios, mas enfim, quando convencida a tomá-los, em poucos dias minhas fichas começaram a cair. Não lembro muito das bobagens que disse e fiz, mas fui aos poucos relembrando das pessoas que me eram tão queridas mas que não queriam mais saber de mim. Iniciei o processo de me responsabilizar por meus atos, primeiro pedindo perdão a meus pais, durante uma das diversas visitas deles (principalmente no Hospital Nise da Silveira), mas já prometendo a mim mesma que, independente da resposta, pediria perdão a cada pessoa que magoei e prejudiquei durante a crise. E assim o fiz, assim que adquiri minha alta.


Tive que engolir o meu orgulho, mas conforme eu ia me lembrando, mandava mensagem explicando o que tinha acontecido comigo e pedindo perdão. A maioria ignorou, alguns poucos me entenderam e outros até mesmo me bloquearam. Foi quando lembrei de você, da discussão estúpida que tivemos em contraste dos momentos de pura harmonia que tínhamos antes dessa maldita crise. Eu queria muito te pedir perdão e explicar tudo, mas perdi certa coragem. O máximo que consegui foi mandar uma mensagem numa rede social dizendo "Perdoe a mim e a meu Transtorno Bipolar". Apenas. Por muito tempo fiquei checando se aparecia o sinal de "mensagem lida" e nada. Esqueci por um tempo, tentei levar minha vida adiante, mas vez em quando eu ia lá olhar as novidades no seu perfil. Em dado momento, tentei um passo mais arriscado: pedi pra você me adicionar. O tempo foi passando, e ao revisitar seu perfil, pude perceber que você deletou minha solicitação. Respirei fundo: o jeito era aceitar, afinal não seria o primeiro a rejeitar meu pedido de desculpas. Ainda pensei em te escrever essa "carta" me explicando por mensagem, mas meu maior medo é invadir seu espaço e você me bloquear de vez. Acho que isso eu não aguentaria.


A questão é que eu queria te contar tudo o que se passou comigo anos atrás, pedir o seu perdão e tirar esse peso do fundo da alma, e dizer que você foi um dos grandes amores (senão o maior) da minha vida. Queria dizer o quanto eu me sentia em casa dentro do seu abraço e do quanto eu me divertia com as bobagens que você fazia pra eu rir. Hoje não tenho mais, mas guardei por anos uma caixa vazia de bombom que você me deu cheio de recordações suas: a flor de hibisco que você pendurou na alça do meu sutiã (e eu sequei dentro do caderno), bilhetinhos, desenhos estapafúrdios, crachá de evento que participamos juntos, aquele coração que você desenhou e pintou numa das folhas do meu bloquinho... Joguei tudo fora na esperança de também te jogar fora do meu coração. Mas foi tudo em vão: paixões vem e depois se vão, mas com mais ninguém tive a conexão que tive com você. E eu sei que você se sentia conectado comigo também. Era forte, talvez por ser proibido, mas era muito intenso. Todos notavam!... Bem, talvez por isso aquela discussão te aborreceu tanto, ainda mais num momento da vida em que o mundo parecia estar contra você. E quando você mais precisou, eu me juntei aos outros e também me virei contra você. Deve ter sido uma facada nas costas (e é por isso que de tudo que eu fiz durante a crise, independente da reação das pessoas, é só a minha culpa em relação a você o que ainda mais me pesa).


Sim, de vez em quando acompanho a sua vida sim. Sei que se separou e, depois de um tempo solteiro, já está casado de novo (e dessa vez parece muito mais feliz, vamos ser sinceros). Mais um motivo pra eu não forçar uma reaproximação (se é que ainda seja possível) - já basta de viver triângulos amorosos com você. Tá seguindo a sua vida em outros cenários, com novos projetos... Até de visual novo!! Hahahahah... Por isso prefiro deixar as coisas como estão. Mas saiba que hoje estou bem, seguindo corretamente meu tratamento, com muito mais autoestima... Não me sinto mais uma garotinha como antes, me sinto uma mulher de verdade. E desejo pra você que você seja muito feliz, tenha caminhos iluminados, e que Deus e os Orixás abençoem a sua família. E claro: desejo que um dia você seja capaz de me perdoar. Será que o Destino um dia não reencontra a gente?... Nem que fosse apenas pra conversar...


Desculpa demorar tanto pra isso, mas já tava me sufocando. Você é muito importante pra mim. Minhas memórias com você são as mais especiais.


Me perdoa. Eu te amo. Não se esqueça de mim.


Até qualquer dia, no Tempo e Espaço.

domingo, 16 de outubro de 2022

Voltando à Realidade - ou "O Verdadeiro Voo da Fênix"

 É tudo muito estranho quando você passa por uma internação por conta de um surto psicótico. Porque durante o surto, você vive num limbo entre a realidade e as alucinações. Quando a medicação começa a fazer efeito, as alucinações vão embora - e com isso a realidade também parece perder todo o sentido. É como cair infinitamente dentro do buraco do Coelho de Alice: parece que o chão nunca vai chegar. Mas, enfim, se você não tem mais alucinações, já não é mais com o hospital: eles te dão alta e você é encaminhada a um Caps.


E eu continuei o tratamento no Caps, à base de haloperidol e clonazepam. Eu olhava pra coisas e pessoas e não entendia nada. Fiquei assim, como criança, meio abobalhada, quase como se enxergasse o mundo pela primeira vez. Era meu pai que me carregava pra cá e pra lá e organizava minhas agendas de consultas com psiquiatra, psicóloga, assistente social. Foi meu pai que praticamente me carregou pra tirar a segunda via dos documentos que destruí durante o surto. E eu mal me equilibrava - lembro que o haloperidol me fazia ficar saltando de um pé para o outro incontrolavelmente, além de fazer tremer muito as minhas mãos. Eu tinha verdadeiro pavor de sair de casa sozinha, não tinha condições sequer de atravessar uma rua tranquila. Meus sentimentos ainda estavam muito embaralhados, apesar do intelecto me torturar com as lembranças das mágoas que deixei por aí. Minhas consultas com a psicóloga não rendiam, porque eu, aparentemente, nunca tinha nada a dizer, eu só queria ir embora pro aconchego do meu lar que era onde eu me sentia segura. O mundo todo parecia um grande monstro, cheio de seus prédios e carros, querendo me engolir. Ainda tive que trocar o antipsicótico, já que os efeitos colaterais do haloperidol ficaram insuportáveis. Eu só queria ter minha vida de volta, ter amigos e sair sem medo como antes. Mas como demorou...


Com o fechamento do Caps onde eu me tratava, comecei a me tratar numa Clínica da Família. O primeiro psiquiatra que peguei não era tão bom assim, mas tive muita sorte com o segundo, com o qual estou até hoje. Depois de uma longa conversa, ele detectou a minha necessidade de tomar um estabilizador de humor (até então, eu estava sendo tratada como esquizofrênica, que foi o diagnóstico que me deram no Caps, sem nunca terem perguntado o meu histórico). Foi então que minha vida foi se equilibrando, as doses do estabilizador se ajustando, até controlar a depressão. Com uns 2 anos de tratamento, sem nenhum outro sinal de alucinação, me foi retirado o antipsicótico. Menos um remédio pra tomar. Hoje tomo apenas o estabilizador de humor, a prometazina pra me ajudar a dormir, e o clonazepam pra ansiedade - além do propanolol, que controla o tremor das mãos. Conforme fui me sentindo bem disposta e sem tremores, foi me batendo saudade daquela vida ativa que sempre tive - afinal, depois de separada, sempre morei sozinha. Mas meus pais hoje têm medo que eu volte a morar sozinha e tenha outra crise. Eu os compreendo. Mas eu precisava me sentir livre de algum modo, afinal, já eram quase 3 anos de estabilidade.


Então lembrei da minha adolescência: de quando toda minha alegria era resumida em escolher um filme qualquer no cinema e depois tomar um lanche num fast food qualquer. E foi isso que fiz no fim do semestre passado: no começo fiquei muito ansiosa, afinal agora era eu comigo mesma. Confesso que na hora do lanche, minhas mãos tremeram um pouquinho. Mas voltei pra casa me sentindo vitoriosa! Tanto que repeti o feito no mês seguinte. Estava eu de novo botando os pés no chão, recomeçando a andar. Depois disso já saí sozinha várias outras vezes, principalmente pra entrevistas de emprego (cheguei a arrumar um, mas não durou 3 dias, não me adaptei bem). O importante é o bem que isso tem feito à minha autoestima!


A vida da gente é assim mesmo: ciclos se fecham, ciclos se abrem... Mas se isso tudo teve um propósito, foi pra eu levar mais empatia a todos os lugares e provar à mim mesma que, eu posso cair, mas eu sempre me levanto!!


Gratidão, meus Orixás!


Axé-Shalom!

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Nas Profundezas dos Olhos Negros

 Eu estava ativamente na militância da universidade da qual fazia parte e havia uma insatisfação geral entre universitários do Brasil sobre a forma que o nosso ensino estava sendo tratado. Inspirados em outras universidades, fizemos uma assembleia entre nossos estudantes e em votação, decidimos invadir e ocupar o prédio da reitoria, de mala e cuia. 


Eram muitos estudantes e com o passar dos dias, fui me adaptando, me ocupando das mais diversas tarefas - de ajudar na cozinha e na limpeza até cuidar da tesouraria do movimento.


Eu o conhecia só de vista, mas sem nunca ter prestado muito atenção. Só lembro que andava com o pessoal da História (depois fui saber que ele era da Filosofia). 


Um dia, me pediram uma tesoura (ou algo parecido) e eu fui, decidida, buscar na minha mala, que estava guardada na sala do reitor. Concentrada, seguia reta meu caminho de entrar na sala e virar à direita, mas ele estava lá, terminando de trocar de roupa. Quando nossos olhos se encontraram, me desconcertei, perdi o prumo, já não sabia mais direito pra onde virar e o que estava fazendo ali. Fiquei hipnotizada por aqueles olhos profundamente negros. Fui despertada pela colega que tinha pedido a tesoura e vinha atrás de mim, sem que eu percebesse.


Me agachei e abri a mala, encontrei a tesoura e a entreguei. A colega se afastava às minhas costas enquanto eu contemplava a mala aberta, ainda confusa, perguntando a mim mesma "o que foi aquilo?...". Foi quando tomei um susto: uma mão tocou rapidamente o meu ombro e quando olhei pra trás e ergui o olhar, era ele, o dono daqueles olhos negros no qual me perdi. Muito acanhado e de cabeça baixa, ele quase sussurra:

- Er... Por acaso você poderia me emprestar um pente?...

Eu, nervosamente, comecei a buscar meu pente pela mala até que encontrei e entreguei, evitando olhar no rosto dele. Fechei toda a mala e quase corri pra fora da sala, pra me distrair com as várias outras tarefas que tínhamos. Depois de um tempo ele me procurou com o pente e, ainda timidamente, disse apenas "obrigado". Devo ter respondido o meu costumaz "imagina!", e assim se seguiu o dia.


Não deve ter passado 2 dias e ele, da mesma forma tímida, veio pedir o pente novamente. E novamente. E novamente. Eu já não aguentava aquela agitação que ele me provocava, mesmo tão tranquilo, e entreguei o pente:

- Toma! Fica com o pente com você! Eu não uso mesmo... No fim da ocupação você me devolve...


 Uma noite, pra comemorar 1 mês de ocupação, fizemos uma "festinha". Eu bebi horrores e alguém botou forró no som. O melhor amigo dele me convidou pra dançar e eu aceitei toda feliz - tinha tempo que eu não dançava forró. Me diverti muito e ao longe vi que ele também dançava com outra moça. Em determinado momento, os 2 casais se encontraram no meio da pista e se separaram: o amigo dele pegou a outra moça pra dançar e eu mal consegui olhar pro moço de olhos negros, nós dois não conseguíamos nos encarar. Ele era visivelmente mais novo que eu mas mexia comigo de uma forma que me dava medo. E ele parecia ter medo de mim também. Ficamos por alguns segundos parados no meio da pista, mas sem coragem de dançar. Arrumei uma desculpa e saí.


No total, ficamos 3 meses morando no prédio da reitoria. Aos poucos percebi que ele queria se aproximar, mas pra mim era difícil me abrir. Até que em uma das várias reuniões que tínhamos lá, com o objetivo de expulsar um dos integrantes da ocupação, eu me ausentei com a desculpa de fazer café e não voltei mais: fiquei chorando na varanda do segundo andar. Foi quando ele se aproximou e não sei bem como começou, mas de repente me vi contando várias coisas da minha vida pra ele, inclusive coisas que vivi com o tal aluno expulso. Daí em diante trocávamos memes quando conseguimos hackear os computadores do prédio e ríamos muito. Foram várias outras conversas sobre esoterismo, UFOS que buscávamos nas noites no terraço do prédio fumando, vários tipos de magia, ocultismo em geral. Ele me ensinou que satanismo não tem nada a ver com o que a sociedade pensa. Na nossa visita com amigos até um grupo de indígenas que resistiam no Maracanã, não nos desgrudávamos de tanto assunto. Lá recebi rapé pela primeira vez e tomei ayahuasca, num ritual de limpeza. Mas isso é outra história...


Só sei que das dezenas de alunos que ocuparam a reitoria, só restamos 12. E a princípio, ficamos inseparáveis. Juntávamos todos, cada um levando uma coisa, na casa de um de nós e fazíamos uma farra! Todos sem grana, mas juntando o que cada um levava, fazíamos altas receitas! Até que foi o dia de todos irem pra minha casa. Foi divertidíssimo, era verão e aproveitamos o sol no meu terraço, com o som no talo (pra incômodo dos vizinhos), tomando banho na caixa d'água. Passeamos a pé em Madureira; cantamos, bêbados, "Evidências", a plenos pulmões pelas ruas. Com o passar dos dias, cada um teve que ir, por conta de compromissos. Ficamos só 5.


Peguei os 3 colchões que estavam na sala e os levei pro terraço. A noite estava fantasticamente estrelada. Nossos assuntos não acabavam nunca e nossos amigos já falavam que conversávamos até dormindo (ele dizia algo dormindo - ele era totalmente sonâmbulo - e eu o respondia, também dormindo e vice-versa). Naquela noite, eu me ofereci a compartilhar do mesmo colchão que ele pra continuarmos a conversar, basicamente alheios das conversas dos outros 3.


Dali as conversas aos poucos começaram a ser acompanhadas de carícias e eu, frustrada, pensei que ia ficar por isso mesmo, conforme o sono foi nos pegando. Até que ele me surpreendeu:

- Estou com uma grande dúvida...

- Qual? - respondo com os olhos semicerrados de sono e embriaguez.

Foi quando ele olhou pra mim:

- Se me entrego ao sono agora ou me envolvo com você...

Eu apenas sorri e disse "estou com a mesma dúvida...".

Nos beijamos. Ali, debaixo das estrelas. Acho que estávamos bem bêbados pois o beijo começou estranho, mas logo tudo se encaixou. Foi mágico. Ainda mais com todas aquelas estrelas como testemunha. Ele sugeriu que entrássemos, mas vi que estávamos bêbados demais, não curtiríamos tanto.

Mesmo assim, ele foi muito carinhoso. Ficamos de mãos dadas olhando pro céu, nossas mãos se encontraram por cima das nossas cabeças e se entrelaçaram. Parecíamos um casal de namorados bobos, aguentando as piadinhas dos outros 3 amigos. No dia seguinte, todos ouviam música distraídos na sala e resolvemos escapar para o quarto. Foi tudo perfeito, acho que eu nunca tinha tido tanta química com ninguém. Sua juventude de 12 anos a menos me fez me sentir uma deusa e ele parecia me saborear como uma fruta de época. Quando pensei que eu já tinha visto o céu o suficiente, ele acelerou pra dentro de mim. Senti uma energia muito forte (até hoje me pergunto se era a kundalini), e essa energia foi subindo pela minha coluna em espiral até me deixar sem controle. Eu estava pra gritar, e nosso gozo foi abafado por um beijo profundo que quase me sufocou. Sim, ali EU VI O CÉU. Ele entrelaçou seus dedos nos meus e assim ficamos por alguns instantes, pra nos recuperarmos.


Os dias seguintes foram os mais fofos do mundo. A gente dormia juntinho, ficava fazendo carinhos um no outro... E nossos amigos sempre fazendo pequenas brincadeiras. Fui tratada com um carinho como nunca antes. Até que chegou o dia em que precisávamos ir pra faculdade. Fomos de trem até a Central através do caminho que eu conheço pra "dar calote". Ele me segurava pela cintura no trem como se eu fosse sua. Um amigo nosso passou mal e demos uma passada numa UPA. Ele cochilou no canteiro com a cabeça no meu colo. Mas quando chegamos na universidade, ele já não era mais o mesmo: ele estava deitado no chão e eu sentada ao lado. Me cansei e pedi licença pra deitar, pensando que ele ia abrir o braço pra eu apoiar minha cabeça. Ao contrário: ele fechou mais o braço e se encolheu todo. Já não era mais o mesmo. Era como se toda magia tivesse sumido.


Ainda tentei algumas investidas, mas foi inútil. Tudo parece não ter passado de uma ilusão. Não demorou, soube que ele tinha ficado com uma amiga (uma daquelas 12) e eu fui dar-lhe um esporro. Foi assim que ela também soube de mim e deu um escândalo (provavelmente se achava única como eu, mas amiga é meio pesado, não?). Depois foi uma sucessão de brigas porque eu queria salvá-lo dele mesmo, enquanto tudo que lhe interessava era (muita) bebida, drogas e outras mulheres (algumas que cheguei a pegar de surpresa, o que me machucou demais). Tudo isso enquanto, ao mesmo tempo, ele criava coincidências, provocava ciúmes, me lançava olhares, sempre de forma enigmática. E pra piorar, isso tudo em meio ao meu surto psicótico.


Claro que meu surto distorceu, e muito, a visão das coisas, mas em questões práticas, ele não passou de um canalha. Demorei pra perceber mas percebi faz tempo! Mas sabe o que é o pior? Eu não guardo raiva dele. Pelo contrário, espero que esteja bem. Hoje não o desejo mais na minha vida porque ele bagunçou minha cabeça demais. Mas confesso que sinto saudade. Saudade daquele olhar profundo e acanhado. Dos nossos papos de ocultismo. Das nossas trocas de memes. Do som delicioso da sua risada (e nisso todos concordavam). Mas, enfim, se a Vida que levou, é pra eu ter histórias mais bonitas no futuro.

Ufa!...

Axé-Shalom!

quinta-feira, 12 de maio de 2022

"Como nossos pais"

"Não quero lhe falar meu grande amor 
Das coisas que aprendi nos discos 
Quero lhe contar como eu vivi 
E tudo o que aconteceu comigo 
Viver é melhor que sonhar 
Eu sei que o amor é uma coisa boa 
Mas também sei que qualquer canto 
É menor do que a vida 
De qualquer pessoa 

Por isso cuidado meu bem 
Há perigo na esquina 
Eles venceram 
E o sinal está fechado prá nós 
Que somos jovens 
Para abraçar seu irmão 
E beijar sua menina na rua 
É que se fez o seu braço 
O seu lábio e a sua voz 

Você me pergunta pela minha paixão 
Digo que estou encantada 
Como uma nova invenção 
Eu vou ficar nesta cidade 
Não vou voltar pro sertão 
Pois vejo vir vindo no vento 
Cheiro de nova estação 
Eu sei de tudo na ferida viva 
Do meu coração 

Já faz tempo eu vi você na rua 
Cabelo ao vento 
Gente jovem reunida 
Na parede da memória 
Essa lembrança 
É o quadro que dói mais 
Minha dor é perceber 
Que apesar de termos 
Feito tudo o que fizemos 
Ainda somos os mesmos 
E vivemos 
Ainda somos os mesmos 
E vivemos 
Como os nossos pais 

Nossos ídolos ainda são os mesmos 
E as aparências Não enganam não 
Você diz que depois deles 
Não apareceu mais ninguém 
Você pode até dizer Que eu 'tô por fora 
Ou então que eu 'tô inventando 
Mas é você que ama o passado 
E que não vê 
É você que ama o passado 
E que não vê 
Que o novo sempre vem 
Hoje eu sei que quem me deu a ideia 
De uma nova consciência e juventude 
'Tá em casa 
Guardado por deus 
Contando vil metal 
Minha dor é perceber 
Que apesar de termos feito tudo, tudo 
Tudo o que fizemos 
Nós ainda somos os mesmos 
E vivemos 
Ainda somos os mesmos 
E vivemos 
Ainda somos os mesmos 
E vivemos como os nossos pais..."

terça-feira, 3 de maio de 2022

Onde estou eu?

 Fico refletindo sobre a minha vida, tudo que já passei, e onde cheguei hoje, quase 3 anos depois da internação. Eu sempre fui uma mulher guerreira, com iniciativa, criando 2 crianças praticamente sozinha apesar do Transtorno Bipolar. Lembro de quando peguei esporotricose e corri atrás sozinha do tratamento em Manguinhos, de fazer os dolorosos curativos. Lembro de acolher minha sogra recém-operada de câncer quando ninguém a queria acolher; dos horários dos remédios, dos cuidados com a alimentação nasogástrica, com a limpeza da traqueostomia dela. Lembro da minha primeira crise maníaca, quando fui sozinha pra emergência psiquiátrica aos prantos tentando esconder as lágrimas na kombi que me levava até lá. Lembro da coragem em me separar, da coragem de enfrentar um Enem e passar, de liderar uma chapa do Centro Acadêmico que ganhou. Lembro da minha iniciativa em participar da ocupação da reitoria, dos momentos de liderança que protagonanizei. Cadê esta mulher hoje? O que aconteceu com ela?


Depois da internação me tornei uma pessoa medrosa, dependente, com medo de tudo, até de sair de casa. Por quê? Será o medo de perder tudo de novo, da maneira que perdi? Só me sinto segura em casa e tenho medo até de lidar com novas pessoas. Eu até cheguei a conseguir um emprego nesse período, mas não deu certo, fiquei só 3 dias (mas apenas por não concordar com a idoneidade da empresa), mas pensar em lidar com gente de novo me faz tremer. Me sinto dependente de calmantes pra tudo, tomava um toda vez que tinha que ir na dentista. MEU DEUS, EU SÓ QUERO TER UMA VIDA NORMAL!!!


Eu sei que há ainda dentro de mim aquela mulher forte e guerreira que um dia já realizou tanto. Eu tenho me concentrado em encontrá-la e colocá-la pra fora novamente. Meus pais já têm certa idade, minha mãe depende mais de mim do que eu dela, meu pai já nem dirige mais à noite por conta da vista... Em breve eles não poderão cuidar de mim, eu que terei que cuidar deles... E nessa eu estarei mais só do que nunca, já que meu irmão mora aqui mas é tão ausente que é como se não morasse. Eu preciso voltar a trazer à tona o mulherão que eu sei que sou bem aqui dentro. Eu não sou mais aquele bichinho enclausurado num manicômio. EU SOU UMA MULHER LIVRE! E já não sou mais uma menina, tenho mais de 40 anos e eu sei que sou forte. Eu só preciso exercer isso. E busco formas de fazer da melhor forma possível. 


Que Deus me abençoe nesta jornada!


Axé-Shalom!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Entre o sonho e a realidade

 Na mais tenra infância (entre 3 e 5 anos), eu tinha um sonho recorrente: eu chegava de viagem num apartamento onde eu era recepcionada por um grande grupo de amigos, que me recebiam cantando "parabéns a você", pois era meu aniversário. A grande janela da sala, que dava prum corredor, estava toda decorada de flores, alguns amigos se dependuravam nas janelas do apartamento, até que em dado momento, todos comemoraram ainda mais empolgados, me chamando à grande janela  me dizendo coisas do tipo "ele chegou!", e eu, muito feliz, me encaminhava à tal janela. Lá embaixo, no corredor todo decorado, um rapaz de jeans e camiseta branca fazia uma serenata, caminhando em direção à portaria do prédio. Todos dançavam como que ensaiados, e então o rapaz - do qual eu não via o rosto - adentrava no prédio e subia as escadas, enquanto eu não me continha de alegria. Eu o esperei então ao lado da longa mesa de jantar. Ele entrou pela porta da cozinha, atravessou a cortina que separava a sala do corredor e ficou ali, por algum momento, como se tomasse coragem. Eu podia sentir de longe sua respiração ofegante e era como se meu coração batesse no mesmo compasso. Até que ele finalmente, encorajado pelos que assistiam a cena, se encaminhou em minha direção. E no momento em que eu iria tocá-lo para nos beijarmos, eu simplesmente era arrancada do cenário e acordava assim, desolada, no meio da madrugada, e chorava de saudade de pessoas que eu nem conhecia. Foi assim por anos na verdade, mas os sonhos foram ficando mais esporádicos. Lembro-me que a última vez que tive esse sonho foi aos 15 anos e até achei estranho, pois já havia anos que eu não sonhava isso. O rosto do rapaz, sempre uma incógnita. 


Décadas depois, uns 3 anos atrás e com o sonho esquecido, um grupo de amigos meus alugaram juntos um apartamento. Fiquei assustada: o apartamento era exatamente igual ao desse meu sonho, incluindo a longa mesa de jantar e a cortina do corredor. E aos poucos eu fui identificando alguns amigos que apareciam no sonho e que dessa vez eram de verdade. Passei a frequentar o apartamento pela proximidade com esses amigos e com a familiaridade do lugar, talvez também na esperança que o tal rapaz do sonho aparecesse pra mim. Na verdade, eu já sabia quem era, mas vivíamos brigando, por isso mesmo eu ansiava por esse dia tão especial, em que talvez nos entenderíamos. Na verdade, isso nunca aconteceu. 


O que aconteceu na verdade eu não sei. Só sei que eu já estava em crise e devo ter cometido alguns deslizes que fizeram esses amigos se afastarem de mim. Passei lá meu aniversário de 38 anos chorando sem parar, com os olhos inchados, e ninguém se importava. Eu na verdade estava cercada de gente e mais sozinha do que nunca. Não teve comemoração, nem "parabéns pra você", muito menos serenata. Apenas solidão. Afinal, o que eu estava fazendo que afastou a todos?


Só sei que voltei pra casa e semanas depois, quando reapareci, fui informada que não me queriam mais lá. Meu mundo caiu ali. Foi exatamente a sensação de ter sido arrancada do sonho da minha infância. E até hoje eu me pergunto o que foi que eu fiz pra ter perdido até mesmo aquele que era meu melhor amigo. 


De fato, a única explicação que tenho é a de que a loucura, já presente na minha infância, me tirou tudo, até o chão. O fato d'eu ter abandonado o tratamento e ter começado a abusar de ilícitos me fez ter uma visão equivocada da vida e em meio a esses delírios de cabelos cortados e roupas surradas, com um mochilão nas costas e sem rumo nenhum na vida, eu possa ter prejudicado minhas relações. Não culpo a ninguém, afinal não é fácil conviver com uma pessoa bipolar, e ninguém tinha obrigação de ficar relevando minhas sandices dentro da própria casa. Mas ainda assim lamento que tudo tenha ocorrido como ocorreu. 


Queria eu recuperar aquelas amizades, mas talvez elas não fossem pra mim. Queria eu reencontrar o "príncipe encantado" que me faria serenatas em forma de rimas de hip-hop, mas talvez ele também não fosse pra mim. Então o porque dos sonhos? Seriam apenas avisos mesmo de tudo que eu ganharia e perderia na vida? 


Hoje minha vida parece tão distante de tudo aquilo que nem sinto mais falta, só quero ajeitar a minha vida. Mas por que dos sonhos? Meu príncipe vai voltar? Ou estarei condenada à solidão pro resto dos meus dias?...


Li por aí que almas gêmeas podem até se encontrar, mas não quer dizer que vão ficar juntas. Nem sei se é caso de almas gêmeas, mas fica o questionamento: esse sonho me dizia o quê?


Axé-Shalom!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Não era amor, era psicose

 Não era amor, como tantas vezes eu queria que fosse. Era vontade de salvá-lo de si mesmo, do buraco em que você se afundava, o que era impossível. E pra isso eu usei de todos os artifícios. Recorri a amigos em comum. Eu queria te ver mesmo não falando com você, e não gostava do que encontrava: bebida, drogas, e principalmente mulheres. Afinal você era livre, éramos livres, mas eu me sentia presa. Escrevi mil cartas de amor que nunca foram lidas. E eu no fundo sabia que nunca seriam lidas. Te dediquei canções que ressignifiquei só pra te encaixar. Não era amor, era loucura, hoje sei. Eu estava em surto e você se tornou meu tema preferido. 

Ouvindo as canções antigas de Baco Exu do Blues, tudo voltou como um filme. Mas hoje com mais consciência sobre tudo o que aconteceu, enxergo uma relação conturbada que só existiu em minha mente. Lembro-me dos sonhos que tinha enquanto estive internada. Sonhava com você me salvando da minha vida e de mim mesma. Bastaram 2 semanas aceitando os antipsicóticos pros sonhos sumirem. Era tudo criação da minha mente doente: eu estava internada havia 2 meses e você com certeza seguia a sua vida, com todas as mulheres que podia, porque - eu não queria enxergar - você era assim, gostava de experimentar, experimentar de tudo, aliás. Eu fui apenas mais uma. Não era amor, era experiência. 

Ao sair da internação, busquei notícias suas nas redes sociais. Você me pareceu mais evoluído, concentrado em seguir um caminho mais saudável, galgando novos degraus na vida. Foi um misto de alívio e um tanto de tristeza. Você com certeza já não pensava em mim, nem deveria cogitar por onde eu andava, por tanto tempo sumida. E creio que até hoje eu não devo passar de um borrão do seu passado, se é que sobrou alguma memória da sua mente embriagada de todos os narcóticos que você consumia. Sobrou alguma memória sobre nós? Algo que não fosse nossas crises? Tivemos bons momentos? Você recorda de algum? Eu mesma só lembro de dor, confusão e obsessão. Obsessão minha, pois você me confundia entre indiferença e "coincidências" inexplicáveis. Eu nunca sabia o que você queria de mim. E hoje vejo que talvez eu também não soubesse o que eu queria de você. Eu só queria que aquelas noites estreladas de banho na minha laje e das reflexões de mãos dadas fossem eternizadas. Eu eternizei nossa primeira noite juntos num desenho em grafite. Foi a única memória boa que guardei. O resto... Bem, o resto foi curado pelos medicamentos. Pelo menos a confusão que a obsessão trouxe. As dores parecem cicatrizadas, mas alguns gatilhos, como as canções de Baco Exu do Blues, ainda me deixam um tanto pensativa. Apenas aprendi a não sentir mais falta de você, nem das loucuras que vivi. Não há nada que um estabilizador de humor e um ansiolítico não possam ajudar. Afinal, o fato é que você pode ter sua culpa, mas a bipolar psicótica sou eu.

Escrevo pra passar a limpo nossa brevíssima história, já que essa não passa de outra carta que você nunca lerá. Siga tendo uma boa vida. Não abandone sua fé. Eu tô seguindo, fazendo o mesmo, escrevendo pra cicatrizar de vez.

Fique bem. Porque eu tô. 

Axé-Shalom!