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terça-feira, 31 de julho de 2012

O espelho

Cansaço. Entro no ônibus e recosto minha cabeça no banco. Olho para as luzes acesas do lado de fora e acabo me deparando com a sua boca refletida no vidro da janela. Demoro, mas então me dou conta que aquela boca, que eu acho tão linda, não era a sua, mas a minha.

Ainda espantada, relembro outros traços que temos em comum. Busco na memória algum possível motivo que justifique o fato de sermos fisicamente parecidos, sem encontrar. Observo dessa vez o reflexo dos meus olhos, o formato amendoado rasgado pro centro, detalhe que adoro admirar nos seus. Nesse momento me vem à mente a mensagem que Pai Joaquim da Cachoeira me deu, pacientemente, duas ou três vezes. Da última vez ele alertou que não repetiria mais:

- "Olhe-se no espelho, mas não apenas para admirar a beleza. Olhe e veja o seu verdadeiro reflexo, confie em si. Assim você será feliz..."


Nunca entendi direito essa mensagem, mas nesse momento, dentro do ônibus, tive um insight: será que eu estava olhando o espelho errado por todo esse tempo? Por todo esse tempo, o meu verdadeiro espelho era você?... Há uma teoria que diz que costumamos nos sentir atraídos por pessoas fisicamente parecidas conosco, e isso até justificaria nosso interesse mútuo. Mas não é só isso. Ideias e comportamentos parecidos já eram notórios. Talvez isso explicasse o fato de sempre prevermos atitudes um do outro, ou conhecermo-nos a alma intimamente. Olhei no centro dos meus olhos e vi você. Sua presença era quase palpável e eu jurava que podia ler seus pensamentos onde você estivesse, entender o porquê das suas palavras e atitudes. Puxando pela memória, já estive em seu lugar, abrindo mão de si prá buscar fazer o que era certo. Agora fica fácil compreender-te. Agora fica mais fácil te encontrar na distância: basta eu olhar no espelho e seu sorriso e olhar estarão lá.

Passei o resto da viagem sorrindo para a janela. O ônibus estava vazio, mas se alguém notou, com certeza não entendeu nada. Depois daquela conversa interrompida pelas coisas da vida e dos desencontros do dia, te ver no meu reflexo me confortava: me confortava saber que você estava em mim e que eu podia te encontrar quando eu bem quisesse. Me conforta saber que eu estou em você e a possibilidade de você conseguir o mesmo...


Shalom!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Por que eu te amo?

Me explica que coisa é essa... Essa taquicardia, esse gaguejar adolescente provocados pelo impacto da tua presença. Você entra com o corpo pendendo prá frente, como se já agradecesse a aplausos prévios. Espírito de artista - por isso eu consigo te ler e você consegue me ler. Depois se aproxima e me dá um abraço terno, suave. Mi casa, su casa, nos encontramos em um porto seguro. Éramos só nós dois envoltos de uma nuvem de paz, afogando em afeto a saudade contida. Depois de longo tempo, nos separamos em slow motion - os rostos próximos, era como um ímã: bastaria apenas um movimento e nossos lábios, ávidos, se misturariam como tantas vezes já fizeram. Prá descontrair, você brinca, se prepara prá me dar um "abraço de urso", dança e me faz rir. Me envolve de novo em seus braços, me ergue, a euforia toma conta de mim. "Você é levinha...", você parece se surpreender. Eu gargalho como criança na montanha-russa, querendo que aquele momento fosse eterno. Meus pés aos pouco voltam ao chão. Tudo o mais parece igualmente mágico, pois você parece amar aos meus. E eu o amo ainda mais.

Em casa, meu telefone toca. Imaginei meus pais me dando bronca porque fiquei de ligar e não liguei. Mas, prá minha surpresa, era você, mais uma vez. Atarefado, pegando ônibus, só prá perguntar frivolidades. Quem te aguarda não precisa dessa tua atenção? Me questiono, curiosa, mas nem ligo mais. Continue cantando meu nome, pensando em mim quando menos perceber: eu te aceito assim.

Porque eu te amo, e você amar aos meus já me seria suficiente. Porque eu te amo e ainda conto com o amor dos meus por você. Porque eu te amo e enquanto as canções te trouxerem até mim, estarei em paz. E enquanto teu abraço existir, me perderei  no tempo e no espaço. E te amarei enquanto as almas se confundirem ainda que os corpos se percam em distância.

Porque eu te amo assim? Não sei explicar, nem sei dizer onde isso tudo começou - foi à primeira vista? Não sei. Só sei que minha cabeça só pensa em dizer "eu te amo" quando penso em você. Teus nomes invadiram meu coração e o coração emburreceu o cérebro, que não sabe dizer mais nada a não ser "eu te amo". "Meu riso é tão feliz contigo" e minha boca sorri sozinha ao lembrar dos nossos gracejos, enquanto os olhos represam a intensidade dos meus sentimentos. Meus órgãos todos enlouqueceram, e eu só queria enlouquecer ao teu lado...

Eu te amo. E basta assim.
(Pelo menos por hoje.)



Shalom!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

"O sal viria doce para os novos lábios..."

Silêncio. Paz. Eu não sei como eu tinha parado ali, mas eu estava à beira da praia, sentindo a brisa que remexia as ondas dançando também no meu cabelo, fazendo aquele som quase transcendental.

Olhei pro lado direito e vi grandes pedras. Parecia o final da praia. Eu me abraçava enquanto via tudo se tornar sépia. Três letras hebraicas surgiram flutuando na minha frente; de suas frestas, raios de luz dourada me alcançavam. 

Era tão sublime que eu quase podia flutuar.

Tão sublime assim, eu só tinha uma certeza: eu estava frente a D'us.

Sorri de leve, na certeza de ter encontrado a Força Criadora. Eu não tinha o que dizer, nem pedir, nem agradecer. Eu só queria vivenciar aquela oportunidade de estar tão perto de tamanha fonte de Amor Universal. Era coisa que eu nunca tinha sentido até então...


Num pulo no meu abdômen, meu gato me acordou. Ele nunca tinha feito aquilo antes, e então eu me dei conta de que era tudo um sonho e que eu estava de volta às angústias da Terra. De qualquer forma, mesmo com o coração aos pulos pelo susto, me senti grata por ter sido acordada: uma ventania muito forte acometia meu bairro e eu tive que levantar correndo para fechar janelas e recolocar as coisas no lugar... Depois disso, olhei no relógio e não eram nem sete da manhã. Na internet, poucos estavam acordados, e esses poucos só sabiam fazer piadas em relação à data. 6/9/11. Eu estava tão em outra sintonia que abandonei o computador e voltei prá cama, na esperança de voltar àquele sonho sublime. Nem dormir consegui.

Rolei na cama até ser hora de poder ir à Bienal do Livro. Fui sozinha mesmo, decidida a me divertir. E assim o fiz. Comprei vários livros sobre Kabbalah, que muito transformaram e transformam ainda minha vida. Toda vez que abro os livros, a data está lá: seis de setembro de 2011, 7 Elul 5771. Como se estivessem ali para me lembrar do "dia do Sonho Divino". Como se os números quisessem me dizer algo.

Mas o que adianta tantos nomes e números, se as coisas não dependem só de mim?



Shalom!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Sintoma de saudade

- Oi! Já tá de volta?

Alegria e surpresa se vinculavam na sua voz, me contagiando.

- Sim, já estou de volta! Olha, eu tenho uma coisa prá te dizer...

Vozes se misturavam ao fundo da ligação. Do teu lado e do meu. Dentre risadas, quis ainda saber antes de tentar dar o recado:

- Tá tudo bem contigo?

Sem hesitar, você responde:

- Sim, tudo muito bem. Só estou com muita saudade de você.
- ...
- ...
- Olha, mas eu preciso te dizer...
- Desculpe, tenho que desligar agora. Depois você me liga?

Claro. Por que não?
Só não tive mais coragem de ligar...

domingo, 22 de julho de 2012

"Quando lhe achei, me perdi"

Longe de casa, todos sentem uma carência, uma necessidade de se unir ainda mais como uma família. Apesar dos novos conhecidos, era nos velhos amigos que encontrávamos paz. Não foi diferente conosco, que já encontrávamos entre nós, a paz como um oásis em meio às loucuras do nosso dia a dia...

Eu conversava com esses novos amigos em meio à arquitetura peculiar do lugar. Era entardecer, estávamos todos cansados, mas você, que passava, me alertou de um novo acontecimento, que deveríamos estar presentes. "Vamos?", você me puxou pela mão.

No caminho, nos abraçamos amigavelmente e passamos por uma espécie de bar, você mencionou que ia comprar uma cerveja. Eu falei prá não fazer isso. Você fez aquele seu bico, e com cara de menino arrependido, repensou:"É, né?... Afinal eu ia comprar de olho grande mesmo...". Encostei a cabeça no seu ombro, concordando.

Seguimos caminhando e seus amigos nos pararam para perguntar algo. Eu, distraída, me surpreendi quando você segurou minha mão e entrelaçou seus dedos aos meus. Os olhares se tocaram e nos abraçamos intensamente, sorvendo o cheiro um do outro. Tentei lembrá-lo do nosso acordo e não deixar que nada acontecesse, mas em dado momento, nenhum de nós tinha as rédeas da situação. Agora que o pátio estava deserto, senti sua língua molhar meu pescoço com a força de quem quer alcançar a alma. Tentei dizer não, mas já estava entregue: eu delirava enquanto sentia seus beijos da boca até o colo. Uma de suas mãos invadiu mistérios da minha anatomia, o que fez meu corpo começar a tremer, descontrolado. Ao notar minha vertigem, me puxou para um lugar mais reservado. O sol já estava se pondo, e só conseguíamos enxergar a silhueta um do outro, mas não acendemos a luz - o tato era suficiente. Voltamos a nos beijar, e o frenesi tomou conta novamente. Rapidamente despimos um ao outro e tudo o que você fazia era de um jeito tão inédito que assim que o senti dentro de mim, abafei um grito; logo chegávamos ao êxtase.

Nos abraçamos exaustos com a intensidade do ocorrido, desejando que ninguém interrompesse aquele momento. Você me sentiu apreensiva, mexeu no meu cabelo como só você sabe. Entre carinhos, perguntou o que eu tinha.

- Isso não devia ter acontecido... - suspirei.

Você segurou meu queixo, com o olhar de quem queria começar tudo de novo, me calou com um beijo terno. De um dos meus olhos, uma lágrima escapou. Nem eu entendi o que estava acontecendo, mas você parecia compreender... Num gesto carinhoso, secou-me o rosto úmido e me beijou novamente, mas ouvimos outras pessoas se aproximando. Fingimos então que dormíamos, abraçados.

Afinal, pressa prá quê se teríamos ainda mais uns dias só prá nós... Só pra nos permitirmos...
Esse era o novo acordo.



‎"Já tinham vivido o cio das feras. Mas as mãos insistiam em não se desfazer das formas e dos limites alcançados e nunca repetidos. Sabia que não deveria, mas chamavam-se como quem soletra a primeira sílaba." (Cesar Insensato)

domingo, 15 de julho de 2012

[off] Aventuras mil!

Lá vou eu, deixar minha Cidade Maravilhosa mais uma vez, prá agora visitar o nordeste...

Muitas aventuras nos aguardam! Papel e caneta irão comigo para cada registro.

Até a próxima semana!

Shalom!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A garota de coração partido

Mal se despediram, ela então virou as costas e partiu - deixou o vento carregar suas lágrimas como num mangá, prometendo a si mesma que nunca mais; que se ele mudava seu comportamento assim então não merecia sua amizade, tão pouco seu amor. De repente, quando já distante, seu telefone toca e do outro lado uma voz abafada diz carinhosa e cuidadosamente:

- Dorme bem, tá bom?...

Então todas as resoluções e todos os "nunca-mais" caíram por terra.



"Você é tudo que eu pensei que nunca seria
E nada do que eu pensei que poderia ser
Mas você ainda vive dentro de mim
Diga-me como

Você é o único que eu queria esquecer
O único que eu adoraria não ter que perdoar
E apesar de você partir meu coração
Você é o único

E apesar de haver momentos em que eu te odeie
Porque eu não posso apagar as vezes que você me magoou
E pôs lágrimas no meu rosto 
E mesmo agora quando te odeio, me dói dizer
Que eu sei que estarei aí ao fim do dia

Eu não quero ficar sem você, querido
Eu não quero um coração partido
Não quero dar um suspiro sem você, querido
Eu não quero representar esse papel
Eu sei que eu te amo, mas me deixe dizer
Que eu não quero amá-lo de jeito nenhum
Não, não
Eu não quero um coração partido
Eu não quero ser a garota de coração partido
Não, não, a garota de coração partido

Às vezes eu sinto que preciso dizer
Que até agora tenho sentido medo
Que você nunca viesse
E ainda quero pôr isso prá fora

Você diz que tem o maior respeito por mim
Mas às vezes eu sinto que você não me merece
E você ainda está no meu coração
Mas você é o único

E sim, há momentos em que te odeio mas eu não reclamo
Porque tenho medo de que você se vá
Oh, mas agora eu não o odeio, estou feliz por dizer
Que eu estarei aí ao final do dia

Eu não quero ficar sem você, querido
Eu não quero um coração partido
Não quero dar um suspiro sem você, querido
Eu não quero representar esse papel
Eu sei que eu te amo, mas me deixe dizer
Que eu não quero amá-lo de jeito nenhum
Não, não
Eu não quero um coração partido
Eu não quero ser a garota de coração partido
Não, não, a garota de coração partido

Agora estou no lugar que pensei que nunca estaria
Vivendo num mundo em que é só você e eu
Não terei medo, meu coração partido está livre
Para abrir minhas asas e voar por aí, por aí com você"

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Meu grande amor,

Nossa estória está completando 10 anos, e entre lembranças, borrachas e apontadores, encontrei músicas, fotos, declarações e alguns fatos me chamaram atenção.

Lembra-se da primeira troca de olhares? Da primeira música que cantamos juntos e da lua vermelha desse  dia? Lembra das coincidências, das longas conversas sobre nada, do meu All Star azul, da sua cara no meu óculos, dos carinhos secretos? E da primeira vez que dissemos um prá cada que nos amávamos? É algo marcante mas eu duvido que você vá lembrar... Eu sei, você tem boa memória, mas não é isso! Foi da forma que foi, inusitado como toda a nossa estória começou.

Noite, um grupo reunido no meio do mato com um violão. Você lembrou de uma música sertaneja antiga, e começou a cantar debochado. Não resisti e o acompanhei na cantoria. Durante o refrão, olhamos um dentro do olho do outro, apontamos um para cada, e bradamos os versos:

- ...Te amo, te amo... Quero fazer você feliz...

Lembro que era mais uma daquelas noites de lua cheia de inverno, nós nem podíamos deixar transparecer o que sentíamos. Reprimíamos qualquer olhar que pudesse parecer que... Parecer que... Que nos amávamos! Todos já o sabiam, mas se alguém tinha dúvida até aquele dia, com aquela música, com aquelas caras, os dedos apontados e a sentença "te amo" dita com tamanha intensidade, naquele dia teve certeza; e os que se faziam de contra, compreenderam.

Afinal, um amor assim, quando nos escolhemo-nos antes de nascer, todos os santos e orixás abençoam...

Sou grata por ter você na minha vida! Não só valeu, como tem valido a pena toda a taquicardia, risada, lágrima, canções, momentos de vitórias e outros difíceis. Que o toque das suas mãos nos meus cabelos continue causando os mesmos efeitos que causam em mim e em você até hoje. E que tenhamos muitas outras décadas juntos, num ciclo eterno de ternos sentimentos.

De tua bashert.

Ani le dodi ve dodi li.

domingo, 1 de julho de 2012

1º de Julho - Renato Russo

"Eu vejo que aprendi 
O quanto te ensinei 
E é nos teus braços que ele vai saber 
Não há porque voltar 
Não penso em te seguir 
Não quero mais a tua insensatez 
O que fazes sem pensar aprendeste do olhar 
E das palavras que guardei pra ti 


 Não penso em me vingar 
Não sou assim 
A tua insegurança era por mim 
Não basta o compromisso, 
Vale mais o coração 
Já que não me entendes, não me julgues 
Não me tentes 


O que sabes fazer agora 
Veio tudo de nossas horas 
Eu não minto, eu não sou assim 


 Ninguém sabia e ninguém viu 
Que eu estava a teu lado então 


Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher 
Minha mãe e minha filha, Minha irmã, minha menina 
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser 
Sou deus, tua deusa, meu amor 


 Alguma coisa aconteceu 
Do ventre nasce um novo coração 


Vamos descobrir o mundo juntos, baby 
Quero aprender com o teu pequeno grande coração 
Meu amor, meu amor..."