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sábado, 28 de abril de 2012

De uma amiga

"Tudo estava bem
mas a porta abriu,
Mas ele entrou,
Mas ele sorriu.

Ela até achava
que dava pra se segurar,
que dava pra não sorrir,
que dava pra disfarçar.

Será...
... que alguém notou?
....que alguém viu?
... que alguém escutou?

Não sei,
Não importa,
Porque tudo mudou,
o mundo parou
quando ele abriu a porta."

(Sylvia Alves)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

"Mas te quero livre também..."

Naquele dia tinha violão na hora do intervalo. Até que enfim alguém sabia tocar alguma coisa da Marisa Monte... A pedidos, cantei "A Sua". Cantei sentido - parecia que eu já sabia a conversa que teríamos no dia seguinte...

Não resisti quando você sentou bem atrás de mim ao fim do debate e começou a sussurrar randomicidades. Discretamente, levei a mão ao seu joelho carinhosamente, nem ligando muito prás poucas pessoas que conseguiriam ver daquele ângulo. Eu sentia necessidade de te tocar, e sempre q eu podia fazê-lo, eu fazia. E você também parecia gostar, parava perto, às vezes bem à minha frente.

Ao fim, fomos de braços dados até o ônibus da faculdade. Chegando perto você parou pra me dar mais um abraço daqueles que eu adoro e disse que precisávamos conversar seriamente. Gelei. Será que eu tinha exagerado? Devia eu ter mais compostura? Agora havia também um jogo político, explicitei minha preocupação e você disse que não era isso, que ninguém tinha a ver com a nossa vida.

Pois bem: se não era isso, o que havia de tão grave na sua voz?

O discurso se iniciou com lisonjas e senti desconforto em você: você dizia que eu era uma "mulher de verdade" em meio à tantas meninas que você via por aí, o que o tentava muito. Era para eu ficar feliz ao ouvir coisas assim, mas a tensão era grande. Caminhamos até o jardim e ao chegarmos lá, sem que você olhasse nos meus olhos, a verdade saltou da sua boca: havia uma outra pessoa, bem longe. Mas que poderia voltar a qualquer momento. E estaríamos magoando-a. Quase perdi o chão primeiramente porque eu realmente não fazia ideia - e me esquivo de toda forma de caras comprometidos. Segundo foi por pena. Pena que aquela coisa tão gostosa que estávamos vivendo fosse em vão. Aparentemente nos identificávamos ideal e fisicamente, havia muita química mas também muito afeto. Havia total possibilidade de que nos apaixonássemos; você também sabia e tinha medo como eu. Concordamos então que aquilo não deveria continuar. "Amigos, certo?". Certo. Que jeito, né?

Terminado o assunto, você decidiu me levar de volta ao ônibus, mas eu não conseguiria seguir sem ao menos pedir um último beijo. Eu precisava sentir tua boca e teu corpo pela última vez, precisava daquilo prá sonhar... E você sorriu largamente, num misto de satisfação e medo. "Último mesmo? Tem certeza? Depois você não vai ficar querendo outro, e mais outro, e mais outro...?"

- Vou querer sim, mas vou resistir...

Você me pegou pela cintura, nossos rostos dançavam frente a frente sem se tocar. Eu delirava sentindo a sua respiração antes que nossas bocas finalmente se tocassem, e então foi como se um raio tivesse caído sobre nós. Esquecemos o resto do mundo, ficamos loucos, quase perdi os sentidos ao mesmo tempo em que eu sentia de tudo! Foi o beijo mais intenso de toda a minha vida. E o abraço que se seguiu - ah, o abraço...

"Eu só quero que você caiba
No meu colo porque eu te adoro cada vez mais..."

Porque despedidas são assim, tristes e intensas? Enfim, já era hora do ônibus sair, precisávamos voltar. Você ainda me chamou pra ir com você num bar, mas fui clara quando eu disse não. Eu precisava me afastar um pouco, você precisava entender até mesmo em nome dos nossos projetos em comum. Era assim ou a amizade também iria pelo ralo. Acho que você compreendeu...

"Eu só quero que você siga 
Para onde quiser 
Que eu não vou ficar muito atrás..."

No ônibus, meu estômago revirava e eu achava que dava prá ler na minha testa. Essa mesma testa que você beijou enquanto se misturava aos outros. Eu não queria muito olhar prá ninguém. Nossos amigos em comum, ao nos verem entrar no ônibus juntos, sorriam demonstrando cumplicidade. Mal sabiam o que realmente tinha acontecido.

O bolo na garganta me seguiu até em casa, onde lembrei da música cantada nos corredores da faculdade no dia anterior:

"Eu só quero que você saiba que estou pensando em você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem..."

As lágrimas, finalmente, correram pelo rosto.

"E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem..."


Uma pena. Uma pena mesmo...

Shalom!

sábado, 21 de abril de 2012

"O amor é filme"

Foi um dia inteiro de gestos recolhidos, olhares cúmplices, troca de afinidades. Todos já tinham notado e faziam piadinhas juvenis - eu ruborizava, mas não me esquivava. O problema é que eu tinha medo, muito medo de estar errada mais uma vez.

"Todos já sabemos o q vai acontecer aqui, só não sabemos ainda onde...". Já não era mais segredo pros amigos e as "jogos da verdade" já tinham sido muito explícitos. Embalados pelo vinho e a brisa do mar, confissões vinham à tona. Coração na boca, coração bobo, coração balão.

Já eram altas horas quando do grupo que se encaminhava para o ponto de ônibus ele se desgarrou - sim, eu estava de olho. Até que ele olhou prá trás e me chamou. Queria se despedir porque ia dormir ali. Ainda ouvi outras vozes me chamando, mas como hipnotizada, atravessei até a calçada onde ele estava sem olhar prá trás.

"O amor é filme..."

Passos firmes no asfalto livre. Será que eu conseguiria dizer o que ensaiei tanto na minha cabeça?

"Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama..."

As sandálias cheias de areia quase não tocavam o chão. Mas os pés seguiam decididos.

"Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica..."

Flashes dos momentos compartilhados durante aquele dia me deixavam taquicárdica.

"Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica."

Ao chegar do outro lado, fui recebida de braços abertos. Um abraço longo, terno e quente como outros que já havíamos tido e um silêncio quase constrangedor. Respirei fundo.

- Você não vai deixar o fim do meu dia mais feliz?... - finalmente consegui dizer num sussurro. Mas ele não entendeu. Nos desenlaçamos e nossos rostos estavam bem próximos, olhos nos lábios um do outro quando ele disse "O quê?...".

Me explicar prá quê? Tontos de desejo e vinho, deixamos q o corpo falasse. Linguagem corporal: tudo que eu tinha tentado observar nos últimos 7 dias. Tudo que eu tinha sonhado desde o primeiro dia estava ali acontecendo. O resto do mundo sumiu.

Difícil foi seguir em frente deixando prá trás o gosto, o cheiro, o toque... Mas tinha gente me esperando. De volta ao grupo, a pergunta foi inevitável: "E aí? Curtindo muito a militância na faculdade?".

Ri alto. Eu já não precisava negar minha alegria...

E sobem os créditos!


"O amor é filme e D'us espectador!"

Shalom!

sábado, 14 de abril de 2012

A roda da fortuna

Não, não era amor. Era um fascínio idealizado, dentro das circunstâncias que me eram instigantes. Eu sabia disso, mas acabei me envolvendo demais. Meus dias agora eram gastos nas formas de fugir, mas a verdade parecia me perseguir - como se tudo já não fosse torturante demais.

Soube do evento que ocorreria na faculdade, e achei q seria interessante dar uma circulada - quem sabe, conhecer gente nova? Não demorou muito para que eu e minha amiga déssemos de cara com o casal recém-formado - do qual eu fugia. Minha amiga estava interessada em uma outra pessoa presente e sugeriu dar uma volta. Concordei prontamente.

Foi fácil encontrá-lo. Ele é figura carimbada nos eventos - pelo menos nos poucos no qual estive presente. Estranhamente, quando nos aproximamos e ele veio em minha direção para os costumazes beijinhos no rosto, meu coração deu um pulo. Uma das mãos segurou firmemente meu rosto, o olhar semicerrado quase se aproximando da minha boca. O abraço terno que ocorreu logo em seguida me deixou ainda mais confusa. Eu nem tinha bebido ainda, mas será que ele já? Certamente, nesse caso, minha amiga teria sentido alguma alteração também. Não, ela não notara nada.

Sabe quando você conhece alguém que acha muita areia pro próprio caminhão? Pois é, foi assim no primeiro dia de aula. Um cara super interessante, carismático, mas além de tudo, era meu momento de estudar e não pensar nessas coisas... Quem diria! Enfim: todas as vezes q nos encontrávamos, formei uma barreira. Bloqueei mesmo. E acabou que apareceu uma outra pessoa q me distrairia... E da qual eu passei a fugir.

Quando eu voltava depois da minha saga prá conseguir um banheiro, essa minha amiga me alertou que ele tinha se espantado com minha ausência, parando em meio de seus compromissos para perguntar se eu já tinha ido embora. Não acreditei a princípio, ou não quis acreditar. Ele lembrava do meu nome???... Lembra a estória da barreira? Pois é... Momentos depois ele reapareceu com outra camisa. Dizia que agora podia abraçar, e assim se aproximou de mim, me envolvendo firme e calorosamente. Senti o corpo amolecer em seus braços, apoiei meu queixo no seu ombro, e ele começou a se movimentar levemente ao som da música, eu seguindo seu balançar. Depois de segundos que pareceram anos, de forma igualmente lenta, ele foi me soltando e eu pensei que, por simpatia ia abraçar minha amiga também. Se desculpou mas tinha que resolver algo. Olhei para minha amiga, e ela estava com olhos esbugalhados me olhando com um sorriso cínico no rosto. Ruborizei estranhando a reação daquele abraço em mim.

O resto da noite seguiu sem ele, mas foi mto agradável, conhecendo novas pessoas, me aproximando mais de amigos já presentes na minha vida, lembrando do abraço quente que me deixou tonta... Depois de algumas cervejas, verdades saem, gargalhadas tbm.

Fui me despedir de um amigo, e aproveitei que ele estava perto. Dessa vez foi difícil, prá mim, desgrudar. Desejei muito que as cervejas na mente não me fizessem entregar o ouro - ou qualquer coisa, a desculpa eram as cervejas. Como o evento estava acabando, resolvemos aguardar o resto do pessoal prá comer algo por aí. Nisso, papo vai, papo vem, olhares aqui e ali, um novo abraço aparentemente sem motivo. Olhei prá minha amiga como que para confirmar: será que eu estava me enganando de novo??? O mesmo sorriso cínico que recebi me dizia que não, eu não estava louca. Pelo menos, não dessa vez. Taquicárdica como uma adolescente, me despedi mais uma vez, pq infelizmente ele não nos acompanharia no lanche. Será que eu ia me machucar de novo com esses meus achismos? Lembrei do primeiro dia, das conversas no ônibus sobre peixes, exames, biscoitos e prá onde eu ia do centro da cidade... Meu D'us!! Eu tava distraída da minha própria verdade! Tudo porque eu achava areia demais... Ai, ai, até onde essa minha baixa autoestima ia me levar? Parece que gosto de sofrer e escolhi a estória errada de propósito! Por isso gosto de escrever: as fichas finalmente caem.

Como sou boba... Comecei a noite melancólica, agora eu tremo em lembrar da agradável surpresa. A situação inusitada me fez repensar toda minha estória afetiva até aqui. Me dei conta q sempre busquei a estória mais difícil por ser mais instigante. Quanta gente interessante já posso ter deixado passar...

Bem, prá onde a estória vai, não sei. Eu nem sabia q ia dar nisso! Se vai, se fica por aqui - aprendi a não contar com nada, porque a roda da fortuna gira. Ora de forma mais lenta, ora de forma mais rápida, mas gira sempre. Mas a segunda-feira nunca me foi tão interessante quanto agora...


Ia'Orana!
Shalom!



segunda-feira, 2 de abril de 2012

Retrato em Branco e Preto

"Já conheço os passos dessa estrada, 
Sei que não vai dar em nada, 
Seus segredos sei de cor. 
Já conheço as pedras do caminho, 
E sei também que ali sozinho 
eu vou ficar tanto pior 
E o que é que eu posso contra o encanto 
desse amor que eu nego tanto, 
Evito tanto e que, no entanto 
volta sempre a enfeitiçar 
Com seus mesmos tristes, velhos fatos, 
Que num álbum de retratos 
eu teimo em colecionar 


Lá vou eu de novo como um tolo, 
Procurar o desconsolo 
que cansei de conhecer 
Novos dias tristes, noites claras, 
versos, cartas, minha cara, 
ainda volto a lhe escrever 
Pra lhe dizer que isso é pecado, 
Eu trago o peito tão marcado 
De lembranças do passado e você sabe a razão 
Vou colecionar mais um soneto, 
Outro retrato em branco e preto 
A maltratar meu coração"