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domingo, 30 de abril de 2023

Autista??? Como assim???

Pois foi na véspera de Natal que meu filho mais velho, Luke, trouxe essa questão à família: sua terapeuta, analisando-o aos 21 anos, levantou a hipótese dele ter "autismo leve". Na hora eu refutei, achei exagero, porque ele sempre foi uma criança extremamente comunicativa, e hoje, como profissional, continua sendo (o que é necessário pra trabalhar na área artística, como ele trabalha - aliás, depois me aprofundo sobre a questão de identidade de gênero dele que eu não tinha contado aqui). Meu filho então explicou que o autismo não é assim como geralmente é apresentado nas mídias, que há vários níveis, etc. Como estávamos todos meio bêbados e festejando, cada um com um assunto aleatório, acabei esquecendo desse assunto.


Semanas depois, lembrei do assunto e resolvi pesquisar sobre o autismo - encontrei muito material sobre os sintomas na infância, então me desanimei e deixei o assunto de lado um pouco. Recentemente, tive que ir à Clínica da Família com meu pai e ele sugeriu que eu sentasse num banco ali, perto da entrada, enquanto ele aguardava na fila da farmácia. Foi quando fiquei reparando no trânsito das pessoas no prédio: as pessoas que entravam quase sempre davam "bom dia" pro segurança que fica sentado bem de cara pra porta. Me dei conta que eu, quando adentro ao prédio, simplesmente entro e passo direto pelo segurança, até evitando encará-lo - a não ser quando eu precisava de uma informação, aí eu dava "bom dia"/"boa tarde", pedia a informação, então agradecia e me afastava, mas sempre evitando encará-lo, como se eu tivesse medo por ter feito algo errado. 


- MEU DEUS!! - me choquei com minhas constatações - As pessoas devem pensar que eu sou metida ou mal educada!!! Eu nunca fiz por querer...


Foi aí que "virou uma chavinha" na minha cabeça. Cheguei em casa e foquei a pesquisa em "autismo em adultos". Foi então que entendi vários aspectos do meu filho, muita coisa começou a me fazer sentido, e não só em relação a ele, mas EM RELAÇÃO A MIM TAMBÉM, o que mais me chocou. Entrei em grupos do Facebook sobre o assunto, tanto pra quem tem o diagnóstico quanto para pais e mães de autistas, e fui catando ainda mais peças que se encaixam como um quebra-cabeça! Num desses grupos, havia um link para um teste para ajudar no diagnóstico de autismo (era bem enfatizado: o teste não é o diagnóstico em si, mas pode ajudar a discutirmos com o médico esse diagnóstico). Resolvi fazer por fazer. O site recomendava que quem fizesse mais de 32 pontos, buscasse um neurologista ou psiquiatra. Pro meu espanto, fiz 44 PONTOS!! 


Entrei em contato com meu filho e comentei por alto que estava pesquisando sobre autismo em adultos e que encontrei um link com um teste que ajudava a rastrear a possibilidade do diagnóstico pra talvez ajudar a terapeuta dele - sem comentar a minha pontuação. Confessei que também estava me reconhecendo em muita coisa que não se encaixava no Transtorno Bipolar e nem no TAG, por isso também fiz o teste e ele ficou de me mandar o link do teste de um site americano que ele tinha feito. Passamos as últimas horas falando sobre isso. Foram só as pausas pra cada um fazer seus testes e ele me mandar o link do teste americano. No teste que mandei pra ele (em que fiz 44 pontos), ele fez 45 - e só então contei minha pontuação. No teste que ele me mandou, que indicava autismo a quem fizesse mais de 65 pontos, ele fez 195 e eu 197!! Ele também pediu pra mim algumas lembranças de infância como a terapeuta pediu, sobre seu comportamento e tals... E a princípio eu o achava uma criança tão normal, fui verificando muitas particularidades que começaram a fazer sentido, como o fato dele não ser fisicamente carinhoso (era até meio arredio, pra irritação do pai dele, que era grudento) e a alta sensibilidade a alguns tecidos - que ele afirmou que tem até hoje, não veste roupa passada de jeito nenhum, por exemplo. 


Quando resolvi comentar com minha mãe sobre isso, ela veio com aquele "ahhh, não!! Não me inventa mais doença não!", mas quando comecei a comentar os sintomas que eu e o Luke estávamos compartilhando por WhatsApp e toquei no assunto dos tecidos, minha mãe arregalou os olhos na hora, como se dessa vez, "a chavinha" tivesse virado na cabeça dela:


- Você era igualzinha quando era criança!!!


Hoje sou muito mais tolerante à maior parte dos tecidos, mas acabo de me dar conta de que não suporto cobertores, por exemplo: tô usando um mas com uma coberta por baixo, pra não encostar em mim. E eu já cheguei a ficar tão agoniada com etiquetas de roupas que já cheguei a danificar algumas peças arrancando as etiquetas impulsivamente.


Só sei que a minha relação com meu filho, que andava um pouco distante por causa de diferença de horários, o fato dele já estar planejando uma nova vida com seu companheiro, sua vida ocupada com a profissão e o aproveitamento de sua juventude (e a minha, ocupada cuidando dos meus pais), agora tem sido cada vez mais próxima por finalmente nos reconhecermos um no outro, trocarmos informações (e eu que tô aprendendo mais com ele, acreditem!), entendermos que entre mãe e filho com tendência tão grande não só ao autismo mas também a outros transtornos, existe amor sim, mas um amor mais contido, que sente saudade mas não sabe como vai dizer, e que eu não preciso mais me sentir tão culpada achando que, por ter achado que fui uma péssima mãe, meus filhos ainda guardariam mágoas de mim - o que foi o mais importante nessa época em que se aproxima o Dia das Mães.


Autista ama sim. Bipolar ama sim. Borderline ama sim. A gente só ama um pouquinho diferente...


Obrigada, Deus e Orixás, pelos meus filhos do jeitinho que são!


Amém! Shalom! Axé!