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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Eclipse Lunar em Touro - O Julgamento

Nesta necessidade de me curar das feridas que têm me impedido de voltar a amar plenamente, tenho mergulhado nas minhas anotações feitas baseadas nas sessões de terapia e artigos sobre psicologia, filosofia e outras formas de autoconhecimento - o que acaba gerando ainda mais anotações de novos insights que tenho tido.


É fato que a primeira forma que todos nós vivenciamos o amor na vida é através de nossa família - e como já citei aqui, um dos maiores problemas que tive desde criança foi a relação com minha mãe. Olhando pra trás, todos os atalhos que busquei pra tomar distância física dela falharam, e cá estou eu, depois de idas e vindas, de volta ao lar dos meus pais. Eu sempre costumo agregar um olhar espiritualista a tudo, a partir daí, desisti de me revoltar com o fato e comecei a tentar compreendê-lo para, de fato, conseguir fechar esse ciclo rumo a um novo nível de amadurecimento. E para isso, passei a observar o comportamento dos meus pais de forma mais "clínica", sem me deixar envolver com as crises diárias que surgem. Foi aí que comecei a reparar nos traços narcísicos da minha mãe e aprendi a lidar de uma forma muito mais inteligente com eles - ao invés de me deixar aborrecer com as provocações, por exemplo, simplesmente deixei de dar atenção. Deixei também de conversar sobre coisas da minha vida porque, eu sei, uma hora ou outra essas mesmas coisas seriam distorcidas para me magoar ou atingir minha autoestima. Os resultados logo surtiram efeito mas não me iludi de cara, até porque eu mesma não sabia até onde eu conseguiria seguir com a dinâmica, mas eu acho que eu já estava tão cansada e passei a ter uma paz e uma sensação de respeito tão substanciais que, pra minha própria surpresa, estou conseguindo manter uma boa relação familiar (não só entre minha mãe e eu, mas também minha com meu pai e meus pais entre si). 


A relação da minha mãe com o Transtorno de Personalidade Narcisista não é uma tentativa minha de diagnosticá-la (até porque eu nem tenho esse respaldo), mas justamente o de compreendê-la e, consequentemente, compreender a mim mesma (já que entendi que começou na minha relação com minha mãe a minha sensação de "não ser digna de ser amada", retornando a um dos questionários que a psicóloga me aplicou). Eu também cansei de julgá-la: certamente minha mãe deu o que podia, dentro do que ela tem por dentro. E NÃO É DISSO QUE AS RELAÇÕES SÃO FEITAS? As pessoas dão o que conseguem, não é? E foi provavelmente isso também o que recebi de pessoas que me decepcionaram, e simplesmente decidi voltar a dar às pessoas o melhor que eu posso dar. SEM JULGAMENTOS. Assim como sofri com todo tipo de julgamento a vida inteira, quem sou eu pra julgar outrem? Claro que eu também recebi o que eu permiti que me entregassem: mais um motivo pra eu não julgar - e nem a mim mesma, porque aquela que eu era não é a mesma pessoa que sou hoje.


A verdade é que tem que haver muito Autoconhecimento e Coragem pra saber amar alguém conhecendo tanto seu Lado Luz quanto seu Lado Sombra, reconhecendo que também temos ambos - o que é extremamente importante pra não nos deixarmos nos colocar no lugar de vítimas. Porque fácil é "amar" alguém sob uma ótica totalmente romantizada - o verdadeiro Amor na verdade sobrevive ao desafio de conhecer o lado humano de outro ser humano, com todas as suas imperfeições, "derrapadas" e sem máscaras.


E se é dessa forma que quero ser amada, de que outra maneira devo amar, não é?... SEM JULGAMENTOS.


Axé-Shalom-Amém!


P.S.: Eu estava quase desistindo da ideia de cursar Psicologia, porque, afinal, "como eu conseguiria lidar com os problemas dos outros sendo eu tão problemática?". Mas diante de tantas leituras e resultados práticos nas últimas semanas, tenho percebido que eu mesma estava me julgando duramente... 

domingo, 22 de outubro de 2023

Teu Peito é Minha Gaiola, Minha Mente é Tua Prisão

Loucura que consome:
Tarja preta já não apaga os barulhos do seu nome
Que ecoam na cabeça até enquanto tô dormindo
Eu só queria estar mentindo
Mas tô sempre aqui de novo remoendo essa "fome"
Será crise dos 7 anos?
O tempo voou desde meu surto desumano...
Mas onde moram agora aqueles nossos velhos planos?
Existiram de verdade ou tudo não passou de engano?
E por que ultimamente ando me perguntando tanto
se faz tanto tempo?
Eu não entendo:
Por que 'cê sempre volta quando já tô esquecendo?
Aparecendo em sonhos, dizendo o que estou querendo...
Ressurgindo com memórias dos nossos melhores tempos
Eu já tinha aceitado ser deixada ao relento,
Então você me aquece em simples noite de setembro
Deixando sua aura enquanto estava amanhecendo.
Foi apenas um abraço,
Apenas a confissão,
Então já era: estou de novo em suas mãos.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Encontros e Desencontros

Essa noite, tive a certeza de que não há distância entre Tempo e Espaço, de que o tempo não é linear e que presente, passado e futuro acontecem ao mesmo tempo, no Aqui e Agora.


Nas últimas semanas eu pensei que talvez eu já estaria pronta pra voltar a me abrir para o Amor, mas repensei, porque lembrei de tanta coisa que ainda tenho que resolver na minha vida antes de pensar nisso... Não tenho mais idade pra brincadeira, quero que quando for pra ser, seja DE VERDADE, sabe? (Ou, se não for pra ser, que não seja.) E foi enumerando questão por questão a ser resolvida por mim a mim mesma que acabei adormecendo ontem à noite...


Sonhei que toda vez que eu ia dormir (dentro do sonho), chegava a uma espécie de "céu" cristão (onde podia me ver até entre nuvens), então eu era encaminhada à Terra onde eu tinha uma vivência muito diferente da atual (status, roupas, cultura, etc), e nessa vivência havia sempre um companheiro (com quem eu enfrentava muitos desafios pra ficar juntos), e toda vez que essa vivência na Terra era finalizada, eu voltava pro "céu", onde encontrava uma Ordem de Entidades Espirituais, e eu esperava pela subida do meu companheiro, e era quando algo extraordinário acontecia (e eu nem sei se vou conseguir descrever): meu espírito perdia a forma humana e se tornava um rastro de luz, da mesma forma que acontecia com o espírito dele, então nossas almas quase se abraçavam dançando em forma de uma BELÍSSIMA espiral de luz, trazendo um enorme sentimento de paz. E toda noite que eu ia dormir, todo esse processo se repetia: era como se eu revivesse experiências encarnatórias com o mesmo companheiro todas as vezes que eu ia dormir e sempre me reencontrava no "céu" com ele, causando a mesma espiral de luz, e ao acordar, nos separássemos.


Numa dessas "idas e vindas" à Terra (a última tinha sido uma vivência numa antiga comunidade judaica), quando cheguei ao "céu", eu questionei o que eram todas aquelas "viagens" de todas as noites e porque eu reencontrava sempre a mesma pessoa, então me explicaram que eram realmente retornos a experiências que eu já tinha tido na Terra em outras encarnações e que eu precisava reviver por ainda ter que aprender com elas, e que aquela pessoa que eu sempre reencontrava era a minha Alma Gêmea. "Ah, então por isso a experiência de espiral de luz toda vez que retornamos pra cá?..." Apenas sorriram pra mim como quem têm a missão cumprida.


Acordei meio atordoada, afinal vivi muitas experiências ao mesmo tempo numa noite só. Só não consegui ver o rosto da pessoa que foi indicada como minha Alma Gêmea, só senti sua energia. E de alguma forma, eu tive muita certeza de que esta pessoa já passou pela minha vida nesta encarnação, pela identificação de energia. Mas certeza, certeza mesmo, não tenho. E ultimamente ando evitando me iludir com certezas que eu mesma crio.


Bem, se este sinal chegou esta noite, teve um motivo certo: responder meus questionamentos sobre a minha própria forma de amar e provavelmente ajudar a me preparar para viver o tipo de história que tanto anseio... Só me resta continuar a confiar na Espiritualidade porque sei que, na hora certa, minhas tão desejadas certezas chegarão.


Axé-Amém-Shalom!

terça-feira, 3 de outubro de 2023

"Como será o amanhã?...

...Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser
Como será?"

Ontem à noite, fui invadida por uma fome inexplicável, e estava eu, quase meia-noite, fritando e comendo pastéis (adivinha quem acordou passando mal hoje??? Mas isso é outro assunto...). Quando sentei pra comer, estava passando aquele especial que a Globo produziu pelo Dia da Terceira Idade (protagonizado por Zezé Motta e Andréa Beltrão, não lembro agora o nome do especial - deve ser a idade, rs). Confesso que eu esperava mais do programa pelo que foi anunciado, mas só pelas protagonistas, de quem sou fã, já valeu a pena.

Numa das cenas mais marcantes, Bex (a personagem de Zezé Motta) cantava num videokê "O amanhã" (conhecida pela gravação de Simone), e chamava a apressada e preocupada personagem de Andréa Beltrão a cantar com ela, compartilhando as duas um momento descontraído. Sentada no sofá da sala, levando um pastel à boca, fui hipnoticamente teletransportada a um outro tempo e outra época.

Já são cerca de 4 anos e meio desde que fui transferida ao Instituto Municipal de Saúde Mental Nise da Silveira, onde fui surpreendida pela informação que teria direito a participar de oficinas de artes semanais - atividade que infelizmente não tinha na Colônia Juliano Moreira. Apesar de não ter querido participar na minha primeira semana lá, os dias estavam ficando cada vez mais sufocantes, trancafiada num espaço pequeno, no qual as únicas distrações disponíveis eram uma TV (que, ainda em surto, eu me recusava a assistir por achar que ela estava "falando" comigo), um rádio ruim que só vivia numa estação de músicas gospel (que também não me agradava por não ser da minha fé) e caminhar de ponta a ponta o curto corredor que interligava os dormitórios, com as janelas fortemente gradeadas. Já enjoada dessa última atividade, passei a contar os dias para o próximo dia de atividade. O primeiro que participei, foi uma oficina de miçangas e de desenho (me engajei mais nessa última atividade). Aliviou um pouco aquela sensação de "detenção", e por isso ansiei ainda mais pela próxima. Chegou então a outra semana e, pra minha surpresa, ao ser levada à sala de atividades, fui surpreendida por cadeiras posicionadas num grande círculo, e no meio, um tecido entendido no chão e sobre ele, vários instrumentos de percussão espalhados. Meus olhos brilharam!! Entrei e escolhi meu lugar timidamente, os 2 instrutores explicaram que aquela era uma oficina de música, e que nós podíamos ficar à vontade pra cantar com eles e usar tudo na sala. 

Nas primeiras músicas, me reservei a bater palmas, depois fui fazendo coro das músicas populares que começaram a cantar, foi quando uma paciente mais antiga, que estava sentada ao meu lado, escolheu uma música cuja letra estava numa pasta que nos disponibilizaram e ela, empolgada, pegou no microfone que estava ali, entre nós. Só que ela era muito desafinada e não acompanhava o compasso da música, se enrolava com a letra... Comecei tentando ajudá-la a cantar, mas nada adiantava. Então, com o incentivo dos outros participantes (e da própria colega que reconheceu que não estava dando conta), peguei o microfone com a intimidade que os anos trabalhando com música me deram e dei continuidade, pra espanto principalmente dos orientadores. Peguei também a pasta pra acompanhar a letra, e ao fim da canção os orientadores perguntaram como eu sabia cantar tão bem. Expliquei rapidamente que eu sempre trabalhei com música, que sou de família de músicos, etc. Eles logo escolheram outra música na pasta e comecei a cantar:

"A cigana leu o meu destino
Eu sonhei!
Bola de cristal
Jogo de búzios, cartomante
E eu sempre perguntei..."

Em toda a minha vida, tão cheia de altos e baixos e com os acontecimentos dos mais bizarros, eu jamais havia previsto que um dia eu passaria pela situação de estar internada num hospital psiquiátrico. Mas, sabe o que me surpreendeu mais ainda?? Minha capacidade de resiliência. Mesmo em estado psicótico, eu tinha sempre meu comportamento elogiado pelos enfermeiros (minha única "peraltice" era desenvolver técnicas cada vez mais eficazes em fingir que tomava a medicação e escondia nos locais mais improváveis, jogando pela privada e dando descarga na primeira oportunidade). Até as profissionais que nos serviam as refeições me adoravam, porque eu não tinha frescura de comer nada, fiz amizade com elas. Mas acho que, por mais que eu ansiasse pelo dia da minha alta, a alta era apenas 1 degrau de uma longa escadaria que, de lá de dentro, não podíamos vislumbrar...

"O que será o amanhã?
Como vai ser o meu destino?
Já desfolhei o mal-me-quer
Primeiro amor de um menino..."

E eu cantei. E não só cantei: passei o microfone a outrem e me senti motivada a explorar os instrumentos de percussão, um a um, acompanhando os orientadores, motivando também as outras internas a cantar também. Daí lembrei como é bom fazer música!! Nem que seja tocando um simples reco-reco, ou um mais complexo agogô, simplesmente sentir a música e se fazer parte dela, sentir o ritmo do coração pro corpo... E, por uma hora, pudemos esquecer um pouco a dura realidade da internação antes de voltarmos ao "calabouço" pra podermos almoçar.

Semanas depois, passei a aceitar a medicação, conquistei até o direito a passeios externos com acompanhante (inclusive conheci o inesquecível Museu Nise da Silveira), fiz as pazes com a família e finalmente chegou a alta. Chovia muito e quase que não deu pro meu pai me buscar, esperei agoniada das 9 às 15:30 hs... E voltei pra casa. Eu pensei que ia respirar aliviada, mas me dei conta de que eu ainda não teria paz, era só o começo: compromissos semanais com assistente social, com psiquiatra, psicóloga, tirar documentos... A incerteza sobre a constância da minha sanidade e instinto de independência, sobre meu futuro a partir dessa experiência (principalmente profissional)... Graças aos deuses estou bem melhor hoje, mas ainda tentando me levantar. A única certeza que tenho hoje é que sou muito mais forte do que às vezes tenho consciência.

"E vai chegando o amanhecer
Leio a mensagem zodiacal
E o realejo diz
Que eu serei feliz, sempre feliz!"

domingo, 1 de outubro de 2023

"Nothing really matters to me..."

Eu realmente tenho sido, de fato, uma guerreira: desde a descoberta de novas intolerâncias alimentares (eu já convivia com intolerância à lactose há mais de 10 anos mas descobri recentemente sensibilidade ao glúten), meus dias têm sido muito cansativos: buscar na internet sugestões de receitas práticas (e, claro, baratas), passar horas na cozinha pra prepará-las (inclusive pra acondicionar no congelador), anotar todos os dias o que como pra saber o que pode ainda me fazer mal ou não... E agora tá pior ainda, pois estou vivendo o "desafio do glúten": retomar o glúten à dieta pra observar os sintomas. O que posso dizer??? É que estou PÉSSIMA! Mas tenho ainda que aguentar algumas semanas até a data marcada dos exames pra confirmar a alteração no meu fígado, constatado pelo médico no último exame clínico. 


Isso é chato? Com certeza é, porque minha vida ainda está limitada pela lactose e algo mais que me tem feito mal e não identifiquei, mas tenho me sentido muito mal, com sintomas dos mais diversos, desde gastrointestinais a articulares, passando por inchaços e urticária. Tem dias que mal consigo sair da cama... Mas o pior de tudo é ouvir de todo mundo que o que tenho é "frescura". Já tive cólicas homéricas, já tive crise de vômitos, mas quando "a poeira baixa", minha mãe fica o tempo todo me jogando na cara que não faço mais nada e quando faço, é minha comida separada do resto da família (como se isso fosse um privilégio!). Isso me deixa triste e me sentindo cada vez mais solitária, sabe?... Ao menos agora, tenho de volta meu cantinho na varanda pra não ter que aturar ninguém.


A verdade é que, desde sempre, minha mãe sempre demonstrou ter esse sentimento esquisito em relação a mim: uma espécie de inveja, sempre tentando diminuir tudo que faço ao mesmo tempo que tentando exigir de mim lealdade. Até pra eu admitir isso pra mim mesma é difícil, porque certa vez, ainda na adolescência, tentei desabafar com uma amiga da época, e ela me repreendeu: "Não fala assim que Nossa Senhora não gosta!...". Meu Deus, como as relações maternas sempre foram romantizada, né? Demorou pra eu sentir segurança, depois de quase 30 anos, pra falar abertamente sobre essa minha relação doentia com minha mãe, e só porque foi com minha psicóloga. Achei que ninguém melhor pra entender essa situação do que uma profissional da saúde mental (a única que ficou ao meu lado e levantou minha autoestima quando contei da minha nova rotina cansativa em prol da minha saúde)... Inclusive, foi num questionário de personalidade que minha psicóloga quis entender o porquê d'eu não me sentir digna de ser amada. Travamos nessa questão porque eu não soube o que responder e acabou o tempo da consulta. Ficou pra próxima.


Mas retornando à outra questão, o ponto não é só a esquizofrenia da minha mãe, mas também algum tipo de transtorno de personalidade não-diagnosticado, porque, observando-a melhor no dia a dia, ela muda de "personagens" (com posturas, olhares, tons de voz, TUDO) completamente pra ter exatamente o que quer, tudo de forma muito bem orquestrada. Eu acho que nunca tinha observado minha mãe por um olhar tão clínico e até frio. Minha mãe se incomoda muito de me ver na cozinha por me ver sendo mais ágil e criativa que ela nas panelas (até com as minhas restrições alimentares) e quando eu entro, ela logo se ausenta. Punha defeito em qualquer tempero diferente que uso, até que viu ser inútil, porque esse mesmo tempero agradou aos outros. Então começou a querer comer da comida que eu fazia separada pra mim (já que eu não podia comer pães, queijos, etc) - quis fazer escândalos EXATAMENTE como criança pequena fazendo birra. Meu pai teve que intervir e eu passar a deixar tudo meu fora do alcance dela. Comecei a reparar a "tática de retaliação": fazer comida só pro meu irmão (que, convenhamos, não ajuda em NADA em casa). E não adianta tentar sentar e conversar com ela: ela já responde aos gritos, dizendo que não quer saber, etc e tal. Nessas horas ela esquece quem é que faz e carrega o peso das compras que ela gasta, quem limpa a casa que ela bate no peito que é dela na primeira oportunidade, até mesmo quem lhe dá o braço como apoio pra levá-la ao médico. A verdade é que, não importa o que eu faça de bom, pra minha mãe eu nunca prestei e nunca vou prestar. E foi assim a vida toda: toda a minha alegria em levar pra ela minhas notas altas, premiações da escola e fora dela, realizações acadêmicas e literárias sempre, sempre, SEMPRE levaram um balde de água fria porque, pra ela, nada daquilo me daria futuro (só um marido que talvez me desse um "jeito"). Mesmo que esse marido fosse abusivo e me levasse à depressão ("ainda acho que você devia voltar à 'sua família'", ainda diz ela sobre o "ex-encosto", mesmo depois de mais de 12 anos que pedi a separação, com os filhos já maiores de idade e morando sozinhos). 


A terapia pra mim tem sido muito importante: mais do que apenas ter a oportunidade de ser ouvida, também por ter a orientação de como ME ouvir melhor. Eu estava na cozinha, tentando preparar um lanche rápido que não me fizesse passar tão mal, enquanto minha mãe estava preocupada em fazer algo para meu irmão - eu me sentindo embrulhada,  esgotada e lembrando que eu ainda tinha que estender minha roupa no varal (porque até isso já tinha virado discussão e hoje lavo e estendo minhas roupas separadas dos demais). Pude sentir de novo aquela solidão imensa brotar de dentro do peito e enrubecer minha face. Lembrei então da mais tenra infância: "É... Isso sempre foi assim mesmo...". Em seguida, um lampejo me trouxe à memória o questionamento da psicóloga:


- Mas por que você não se acha digna de ser amada???...


"Mama, ohhh
I don't wanna die,
I sometimes wish I'd never been born at all..."


Às vezes as fichas demoram a cair, não por falta de esperteza nossa. Mas simplesmente porque tem muita gente manipuladora no mundo... Mesmo onde a gente menos espera (e deseja).


Nunca mais, "mamãe"... Nunca mais.


"Anyway the wind blows..."