Pesquisar este blog

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Coração Selvagem

Foi tanto tempo sem nos vermos que eu já tinha esquecido da possibilidade de te reencontrar... o que, curiosamente, sempre acontecia furtivamente às quartas-feiras.


E essa segunda-feira – depois de tantos impedimentos pela semana acadêmica e de tantas tribulações pessoais – me surpreendeu positivamente em vários âmbitos. Só não esperava... você.

Dessa vez, não foi furtivamente.
Você não passou apressado, cumprimentando de longe. Parou – sorriso prestimoso, feliz – perguntando como estávamos. Nos reunimos ao seu redor, e eu quase não consegui dizer nada.

Ia falar o quê?

Das vezes em que parei no píer pra ver as barcas indo e vindo, com Belchior no ouvido e você na cabeça?
Das noites insones em que você entrou pelos meus olhos através das palavras de Durkheim?
Do último sonho em que você parecia bravo comigo – talvez porque, em vigília, eu tenha flertado com o rapaz que trabalha na vila?
Ou de como os raios de sol, naquele ângulo, transformavam seus olhos em vitrais – coisa que eu nunca tinha reparado antes?

Até que um dos meus colegas comentou que a professora de hoje explicava certos termos de sociologia de um jeito muito mais complicado.
Você começou a falar sobre o assunto brevemente, pois logo a minha amiga ao lado te interrompeu – e ela parecia ter incorporado os meus instintos mais primitivos, quase se derretendo:

– Ah... a sua voz... que saudade das suas aulas!

Fiquei impassível, como uma adolescente assustada com seu diário violado.
Meus colegas começaram a rir: “ih!”, todos nós meio chocados.
Ela, coitada, tentava se explicar – mas os outros (homens, né?) já faziam piadinhas, e você riu com aquela timidez tão mineira:

– Bem, depois de uma declaração de amor acadêmica dessas, não tem como negar ajuda, né?

Depois de mais uma breve conversa – em que consegui balbuciar umas coisas certamente irrelevantes, porque mal me lembro – você se despede:

– Bem, se vocês precisarem de ajuda, é só me procurar. Tô aqui toda quarta...

Eu sei. Eu já sabia.

Com sua indefectível pasta de couro (segurada pelas duas mãos, dessa vez), você finaliza:

– Agora tenho que ir pra aula... Tchau.

E se foi, afastando-se de costas, deixando a sua presença em mim pelo resto do dia.

Não me contive: assim que o vi adentrar o prédio, me voltei pra minha amiga:

–Você tá doida??? Roubar meu crush intelectual assim, na cara dura? Quer furar o olho de mamãe???

A coitada só conseguiu responder:
– Cruz credo! Nada a ver! E eu nem sabia...

Pudera – a gente se trata como mãe e filha justamente porque eu tenho idade pra ser mãe dela... e você, pra ser meu pai – talvez por isso você tivesse rido tão gostosamente.

Um dos meus amigos, um pouco mais velho que ela (mas ainda longe dos trinta), concordou comigo que você é interessante.
Mas tudo ficou na brincadeira: afinal, ela é muito nova, está namorando – e gosta de um padrão de rapaz que nenhum de nós entende, rs...

E foi assim que “a turma do outro bairro" viu e soube que eu te amo.

“Amo?"
Desculpa, mas é que “o meu coração selvagem tem essa pressa de viver”, e talvez você "possa compreender a minha solidão, o meu som e a minha fúria – e esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo de novo, com paixão".

Talvez você possa, dentre tantos que não puderam antes...
Talvez eu possa ser seu Arco-Íris, Anjo Rebelde...

Não importa.
Nessa vida tão concreta que tenho levado, você já tem sido o Sol que ilumina meus dias.

“Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão...”

Axé-Shalom-Amen!

Nenhum comentário:

Postar um comentário