Pesquisar este blog

domingo, 21 de janeiro de 2024

Num dia, filhos dos filhos; no outro, pais dos pais

Na virada desse ano, perdemos 1 de nossos 4 cães: foi enquanto eu terminava de fritar rabanadas na cozinha que a nossa Pituca deu seu último suspiro, deitada no mesmo canto do sofá da sala, ao lado do meu pai, onde descansava enquanto encarnada. Fomos um tanto pegos de surpresa porque, apesar da longevidade dela, ela era a que ainda se apresentava mais saudável e ativa que as irmãs da mesma idade e a mais velha. Mas, enfim, só restou a meu pai esperar eu fritar a última rabada pra ajudar a ensacá-la num plástico reforçado e seguir a tradição da família de enterrar os cães no fundo do quintal.


Eu não sei se é assim com todo mundo, mas toda morte me faz refletir sobre os Ciclos da Vida. E não só mortes, mas nascimentos também - eu lembro bem de quando eu estava grávida (e estive por 4 vezes, 2 nascimentos e 2 abortos espontâneos - ou seja, os 2 extremos). O fato da Pituca ter partido justamente na antevéspera do réveillon, momento em que fechamos o ciclo de um ano para receber um novo; logo após também eu ter fechado um ciclo e aberto um novo no meu aniversário 2 semanas antes, toda essa reflexão sobre ciclos giraram ainda mais e mais na minha mente.


Afinal, já que não tenho mais avós vivos (a "última sobrevivente", minha avó paterna, se foi aos 99 anos em 2022) e que minhas sementes já estão maduras, eu já tava naquela fase de me preparar pra POSSIVELMENTE ser avó (o mais velho já disse que não quer ter filhos, mas já a caçula, não faço ideia - só espero que não tão jovem, claro). Porém, ao acompanhar minha mãe ao médico essa semana (e eu nem iria, só peguei carona no Uber que meu pai pediu), essa questão não é a única que a meia-idade está me trazendo.


Já há tempos que venho correndo contra o tempo pra voltar ao mercado de trabalho depois da internação e do período pós pandemia, infelizmente, sem sucesso. A idade sempre pesa. Enquanto isso, venho ajudando em casa e cada vez mais, pois minha mãe é obesa mórbida e tem problemas de mobilidade. A medicação parece também estar  deixando seu raciocínio cada vez mais lento, então, além da limpeza de uma casa que comporta 4 pessoas e agora, 3 cães, também fico responsável por cozinhar pra família toda quase todo dia. Além do mais, também ajudo meu pai com as compras semanais, e quanto mais o tempo passa, percebo que ele, que sempre foi resistente, anda cada vez mais cansado - afinal ele sempre fez tudo por todos em casa e já vai fazer 73 anos. Aliás, logo depois da morte da minha avó no ano retrasado, ele já começou a me preparar sobre quais procedimentos tomar caso aconteça algo a ele (tipo, acionar o seguro funerário, solicitar a pensão da minha mãe, anunciar e vender seus equipamentos do estúdio, etc). Agora ele está com cirurgia de catarata marcada, o que precisa de acompanhante, e já me deixou de sobreaviso. Até aí, tudo tranquilo. O problema é que minha mãe também está com catarata e, a princípio, somente meu pai iria acompanhá-la nos exames. Ainda bem que eu também estava lá: foi difícil subir no ônibus até o metrô, depois fazê-la subir as escadas, depois passar na passarela (porque ela entrou em pânico), depois descer as escadas, entrar no metrô, sentar (até outras pessoas tiveram que ajudar), depois mais escada pra subir, outra passarela pra entrar em pânico e alguns metros pra andar até chegar em casa. Fizemos o percurso num tempo 4 vezes maior que o normal, até porque toda hora minha mãe parava dizendo que ia desmaiar. E depois de 8 horas fora de casa e todo esse trabalho físico e emocional, ainda tive que cozinhar. E o pior: marcaram o retorno pra amanhã. Foi aí que meu pai se deu conta que não dará conta sozinho e pediu minha companhia novamente. Foi aí que pensei: "E agora? Meus pais estão precisando cada vez mais de mim!! Como seria conseguir lidar com um emprego regular e dar conta disso tudo (além da minha própria saúde física e mental)???".


Abri meu coração pro meu pai pra, quem sabe, me ajudar a ter uma ideia. Afinal, eu preciso ter minha renda, ainda quero reformar meu cantinho, comprar minhas coisas de forma independente (e minhas economias estão indo embora...). Eu preciso mesmo de algum tipo de home office, algum freelance... Mas não faço ideia de por onde começar... Mas tô confiando que a Espiritualidade vai me inspirar porque a fé sempre me salvou nos momentos mais cruciais da vida, e de braços cruzados não estou.


Bem, até lá, ainda tenho que aprender com meu pai a lidar com a bomba d'água, checar as caixas d'água, terminar o "pré-inventário" do estúdio... E buscar o perfeito equilíbrio entre a entrega necessária e o autocuidado e autopreservação.


Até porque, qualquer dia desses, são meus pais que partirão, e o que restará será eu com o que fiz e farei.


É o Ciclo da Vida.


Axé-Shalom-Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário