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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Legatos e Staccatos (ou "A segunda versão")

Ela cai no sono. Acaba perdendo a hora de sair de casa. Sonha com maravilhas, com mobília antiga, com tudo dando certo. E na beira de uma cachoeira, uma confissão. Mas ela dizia não. Até que acordou.
Ainda em meio às confusões do sonho, entrou na rede social. Todos os seus sonhos iam por água abaixo. Era isso que ele queria? Mostrar que estava feliz sem ela? Então, que fosse, ela também seria feliz sem ele.
Tentou distrair-se, mas a raiva era muito grande. Não conseguiu conter. Levava um copo consigo para tomar mais uma dose de coca-cola na cozinha, suas mãos tremiam. Ela não podia mais resistir: jogou o copo a dois metros de distância.
Amparou-se no sofá mais próximo, as lágrimas eram abundantes. Observava os estilhaços do copo pelo chão e se perguntava se era mesmo necessário. Mas agora já tinha sido feito.

Do outro lado da cidade, ele andava inquieto. Tentava cumprir seu roteiro pré-estabelecido, mas só conseguia pensar em uma coisa. Com passos decididos, foi até aquela sala isolada. Abriu a porta, olhou em volta, mas não a encontrou. "Talvez ainda não tenha chegado...", ele pensava consigo. Voltou a seus afazeres, mas a cabeça ainda estava lá, naquela sala, longe de tudo. Retornou. A aula já tinha começado, mas ele não se importou. Enfiou a cabeça para dentro da sala, buscou seu objeto de desejo. Ela não estava lá. Frustrou-se.

Ela já secara as lágrimas que borraram seu rímel. Com vassoura e pá em punho, resgatava os pedaços restantes do copo que havia voado com tanta força contra a parede da cozinha. Sentiu que devia contar a alguém sobre o que sentia, antes que ela ficasse doente como ele. Mandou um sms para sua irmã, que estava do outro lado da cidade. Era quase um pedido de ajuda. Soube de notícias mais importantes. Ainda desconcertada, tentava se concentrar nas novas informações que recebia. Era assim que tinha que ser.
Então seu telefone toca. Ela quase deu um salto ao perceber o nome piscando na tela. Era ele. Demorou prá atender. Tinha medo de não saber o que dizer.

- Alô?...
- Alô, boa noite!
Ele estava tão formal... Ela quase podia visualizá-lo rígido. Ele, apesar disso, se enrolava nas palavras, alongava a estória, e no fim ela nem entendeu ao certo o porquê dele ter ligado. Era só prá saber se ela esteve por lá... Só prá saber se estava com alguém que ele sabia que não estaria. Ou melhor: só para ouvir sua voz.

A angústia estava um pouco aplacada. No coração de ambos. Ele agora conseguia respirar melhor, mesmo que ainda intrigado do porquê dela não ter aparecido. Ela conseguia agora rir de si mesma, mesmo sem entender do porquê das coisas que ele fazia. Porque ele tinha que entalar com as coisas que realmente sente? E por que ele lhe obrigara a fazer o mesmo?

Dois corações, quando batem no mesmo compasso, necessitam-se sincronicamente. Buscam-se. Haverão de negar-se, distanciar-se-ão, mas dançarão exatamente a mesma valsa. Seja de felicidade ou de angústia.

No amor proibido, é mais provável que seja dos dois.

Shalom!

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