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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A Esperança

A Vida é boa. A Vida pode ser surpreendentemente boa.

Depois de tantas quedas, tantas perdas, tantas coisas que eu percebi que foram ficando pelo caminho ainda que eu as quisesse agarrar, eu já estava um tanto sem esperanças. Tantos sonhos, tanto investimento de tempo e energia aparentemente em vão, tantas frustrações em forçar os mesmos caminhos... Eis aí o problema: FORÇAR os MESMOS caminhos. A mesma forma velha de fazer as coisas, de perceber o mundo, de fazer a própria Vida acontecer. Se a Velha Estrutura estava ruindo bem diante dos meus olhos, porque é que eu ainda insistia em reconstruir a mesma Torre?

Lembro da primeira vez que toquei num baralho de tarot na minha vida. Eu tinha 14 anos e fugia das aulas do que hoje chamam de Ensino Médio para me esconder, com minhas amigas, na própria biblioteca da escola. Sempre achei bibliotecas fascinantes - certamente pelo meu fascínio pelas letras já desde muito nova, o que obrigou minha mãe a me alfabetizar em casa, antes mesmo da pré-escola - e aquela biblioteca em particular, naquela construção histórica que ainda se mantém em meio às modernas construções de Vila Isabel, parecia abrigar algo ainda mais mágico. Não por acaso o bibliotecário que nos assistia em nossas tardes era assim, meio "mago": foi ele que começou a trazer assuntos místicos às nossas conversas naquele lugar que ninguém mais da escola explorava. Aproveitávamos então a liberdade da biblioteca vazia para conversar animadamente sobre os mais bizarros livros que encontrávamos no fundo das prateleiras.

Nosso interesse pelo místico sempre foi muito grande, mas não tínhamos base para nos aprofundarmos. André, o nosso amigo bibliotecário, então começou a nos contar coisas sobre "a terra, a água e o ar" de forma fascinante. Tanto que uma das minhas amigas se empolgou em trazer de casa seu baralho de Marselha, já que ele tinha prometido nos ensinar a jogar.

Ele nos fez, uma a uma, tirar uma carta do baralho, e com esta falar um pouco sobre nós e o nosso futuro. Foi quando toquei pela primeira vez num baralho como aquele, totalmente fascinada e tremendo por dentro, já que eu não fazia ideia do que ele iria "ler" sobre mim naquele momento - como se todo o meu destino dependesse daquilo.

E foi então que eu retirei A Estrela. Nem deu muito tempo d'eu admirar aquela belíssima ilustração na minha cor favorita na época (azul), ele desandou a falar sobre a carta e, mais do que tudo, sobre o futuro brilhante que eu teria quando fosse adulta. Isso por si só já marcaria qualquer adolescente sonhadora (assim como também indicava a carta), mas a mim marcou ainda mais, pois era um alento em meio a uma vida já tão cheia de depressão, transtornos mentais (os meus começaram a dar o "ar da graça" nessa época), conflitos verbais e físicos e certa negligência. Me confortava saber que um dia eu poderia viver algo diferente daquilo tudo que tanto me angustiava. Era, realmente, mais do que uma carta: A Estrela me trazia luz em meio a um tanto de escuridão.

Anos depois descobri que a soma da minha data de nascimento dá 17 - exatamente o número que identifica este arcano. "Maktub", talvez seria isso mesmo.

Anos se passaram, muita coisa aconteceu, e nada mudou assim, de forma mágica. Mesmo assim, a esperança e a , as palavras-chave desta carta, me acompanharam e me fortaleceram até aqui. Sou grata aos Céus por isso. De qualquer forma, hoje sou eu quem tenta levar um pouco dessa luz a outras pessoas angustiadas, que têm me dado muito mais do que peço, não só materialmente mas, principalmente, emocionalmente: o mais lindo e importante que tenho ganhado dessas pessoas, além do carinho e respeito, é a conexão de almas empáticas, que encontram algum alívio na habilidade que lapidei nos últimos 23 anos - e isso não tem preço.

Mesmo assim, custei muito a "ser taróloga" - ou me assumir profissionalmente como tal. E pra além da tarefa espiritual, busco assumir esse compromisso com seriedade e responsabilidade em cada palavra proferida, mesmo que o que eu veja no jogo não seja tão bom assim. É o respeito por outra alma que se preocupa, já que eu mesma busquei e busco tantas vezes o tarot quando eu mesma estou preocupada. E isso também parece não ter preço.

A paz que isso tudo me dá hoje, com certeza, não há valor nenhum que pague. E sou grata à Espiritualidade por me dar essa oportunidade de evoluir.

Paz é o que desejo, hoje e sempre. A mim mesma e a todos os que me buscam. Tanto nas mesas de tarot quanto aqui.

Ia'Orana!


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