Pesquisar este blog

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

A Cartomante

Eu estava em minha antiga casa e de repente o céu escureceu, uma tempestade se armou, e eu não lembro o porquê mas eu sabia que tinha que fugir pra longe dali. Eu só sentia muito medo, sem saber onde me abrigar. Parecia que aquela tempestade me seguia por onde eu ia... Até que percebi uma ou outra telha se desprender de casas vizinhas e o desespero tomou conta de mim: segui meu instinto de sobrevivência e me escondi debaixo de uma cama que se encontrava ali na rua mesmo, e dali observava o caos se espalhar pelo bairro, rezando para que não me encontrasse ali. 

E foram realmente alguns momentos de pavor, e quando tudo foi passando e eu me tranquilizava, passei a prestar mais atenção às coisas à minha volta: havia muito lixo trazido pela ventania, coisas apodrecidas... Até que encontrei algo que me chamou atenção: um boneco de plástico que tinha uma abertura atrás. Eu sabia que aquilo não era nada bom, mas fiz questão de ir a fundo: na abertura feita atrás do boneco, havia vários elementos amarrados, e o que me chamou atenção foi ter também um nome de alguém escrito ali. Me parecia magia feita, e até pensei em perguntar a alguém se conhecia aquilo, mas simplesmente desisti de fazê-lo; apenas me empenhei a esvaziar o boneco e destruir o amarrado que encontrei, rasgando, inclusive, o papel que tinha o nome escrito (sei que não é o procedimento correto pra desfazer qualquer tipo de magia, mas foi o que meu coração mandou fazer).

Eu tenho há tempos contato de bons cartomantes, mas eu queria companhia pra talvez ter mais coragem (jogar pra mim mesma, ainda mais impressionada, é sempre bem difícil na hora de interpretar). Eu também queria encontrar alguém que lesse Baralho Cigano pra mim, que ainda não domino tal qual o Tarot de Marselha, e quem sabe assim, até aprender um pouco mais. Ele tinha suas angústias também, então sugeri: "por que não vamos juntos?". Ele não acreditava e nem duvidava, talvez por um certo medo da mãe, que era religiosa. "Ora, mas quem precisa saber?". A consulta era presencial e foi toda programada pra que eu pegasse um voo que eu tinha marcado naquela data. Por isso, deixei ele ir na frente (afinal, ele mesmo dizia que o caso dele seria rápido).

Só que não foi. Esperei por um bom tempo do lado de fora, mas de repente me vi na saleta da consulta: era um local bem claro, paredes brancas, nenhum tipo de decoração. Ele estava debruçado na mesa de cabeça baixa, consternado: "mas por que eu não consigo?... Por quê???". Em cima da mesa, uma tiragem de 9 cartas, a cartomante ia explicando e mostrando cada carta, com a paciência de uma mãe:

- Você pode tentar fugir, mas é inútil! Tá vendo essa carta das Estrelas? Quer dizer que é uma união espiritual. Você a ama, e muito! É como se vocês fossem um só. Mas não há que se preocupar com isso... Aqui vejo que você tem medo, que algo foi quebrado, mas que você pode confiar - tá vendo essa carta do Buquê? O problema é que você encontrou nela alguém que exerce tanto poder sobre as pessoas quanto você e isso te deixou inseguro... Tá vendo essa carta das Nuvens? Nesta posição ela indica a sua confusão...

E quando me dei conta, eu tava ali, lendo toda a tiragem, entendendo como se eu realmente soubesse ler BC. As cartas brilhavam pra mim, a cartomante explicava cada uma mas era como se eu já soubesse... E tudo que eu queria era apressar minha consulta, afinal eu ainda estava com medo de me terem feito magia e já tava dando a minha hora de ir pro aeroporto e sequer ia poder me despedir dele... Só que eu estava TOTALMENTE INVISÍVEL. Ninguém me percebeu na saleta... Foi quando me percebi "sobrevoando" a cena, como se eu flutuasse, mas tudo enfim estava fazendo sentido. Quando me dei conta, eu já estava no aeroporto, caminhando satisfeita ao avião, numa videochamada com minha mãe: "ó, não deu pra me despedir, mas quando eu chegar lá, eu ligo! Pode falar pra ele que eu ligo...".


Acordei. Fui fazer café ouvindo um desses aplicativos de vídeos curtos. Não sei porque, ultimamente o algoritmo tem me enviado vídeos de um filósofo que fala sobre Ética nos Relacionamentos - acho até que algumas coisas que ele fala fazem muito sentido, mas no geral, só o acho meio canalha mesmo. No entanto, hoje caiu pra mim um vídeo que quase passei (mas eu estava com as mãos ocupadas com o coador de café) e no final, me fez refletir: o que não é esse tal de Amor Romântico senão a ideia que nós criamos de uma outra pessoa? E se, desde o começo, a enxergássemos como ela realmente é? E se nós também nos permitissemos ser quem realmente somos? Quantos relacionamentos tóxicos e dependentes não evitaríamos? 

Eu só queria dizer: pronto! É isso aqui o que sou. Uma artista intelectualóide que acredita em Orixás, Big Bang, e "casos do acaso bem marcados em cartas de Tarot". E que ainda olha pro céu, como aquela garotinha que nunca deixou de ser, esperando que desça finalmente a nave de seu planeta na Terra pra vir lhe buscar de volta com aquele que lhe fôra predestinado.


Axé-Shalom-Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário