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domingo, 3 de novembro de 2013

It's understood

E parecia que ela amava de novo. Andar de mãos dadas na pracinha era coisa tão remota que quase esquecida. Ela finalmente recebia o carinho que dava, sentia o gostinho de namorar no ponto de ônibus antes de partir. Andava mais satisfeita consigo mesma, mas não mais afoita para que as coisas acontecessem. Ela andava simplesmente em paz e estava aberta às alternativas que o destino lhe daria.

O celular vibra e ela ansiosamente checa pra saber se a mensagem vinha daquele com quem dividira a tarde. Para sua surpresa, leu outro nome na tela do celular: era seu ex-amor. Ele enviara um acróstico com seu nome e palavras desconexas. "Ele não deve estar em sã consciência", pensou ela. Pela mensagem, pela hora enviada, e pelas palavras. O que ela não entendia era que tudo parecia tão bem para ele - por que fora se lembrar dela agora?

Encontraram-se no dia seguinte, conforme seus compromissos. Ela não resistiu e deu um demorado abraço nele: afinal ele ainda era seu melhor amigo. A saudade recíproca já tinha sido declarada. Ela então aproveitou pra comentar que não tinha entendido as palavras que ele enviara no dia anterior.

"Todas as palavras ali têm significado", explicou ele. "Usei o nome do matemático grego porque você é muito inteligente e criativa. A outra palavra não é pejorativa como você pensa - ela quer dizer que você é esperta, tem sempre uma tirada rápida..."

Ela que andava com a autoestima tremendamente prejudicada, tentava disfarçar a satisfação que sentia ao ouvir cada justificativa, sorvendo cada elogio que tornava aquele acróstico confuso numa linda declaração de amor.

Ao entrar no ônibus de volta pra casa, tudo o que ouvira a inquietava, mesmo que cada palavra elogiosa fosse um bálsamo à sua alma. O tal acróstico a deixou feliz por tantos motivos - talvez apenas por ser lembrada - e ela precisava dizer. Mas usou menos palavras do que desejava para se expressar.

"Eu não entendo o que você enxerga em mim, mas meu amor-próprio agradece."

Ele não respondeu. Nem precisava. Palavras são pouco para conseguir explicar aquela ligação que eles tinham. Palavras, aliás, só dificultavam mais a situação, como já dificultara. É no silêncio que sentimentos são trocados; é no silêncio que se descobre que é o afeto o que mais importa. E é no silêncio que eles sabem que o coração dela está guardado nele, assim como o dele está guardado nela. E bastava isso. Nada mais.

"A vida enfim está sendo boa", ela pensou. Tudo parecia estar encontrando seu lugar...

Olhou para a lua nova. Nova era a fase em sua vida. Ela sabia.

Shalom!




"And when I go away

I know my heart can stay with my love
It's understood
It's in the hands of my love
And my love does it good..."

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