Pesquisar este blog

sexta-feira, 21 de março de 2008

Sou o Pouco que Restou

(De Silvana Duboc)


Eu pensava que eu era de um jeito
correto e perfeito.
Eu achava que eu andava pela direita
mas descobri que ela é tão estreita
que meus passos não cabem dentro dela.
Eu me imaginava como uma aquarela
demasiadamente colorida,
eu achava que na minha vida
só existia o sol ardente
mas, eis que de repente,
descobri que sou tristeza e amor,
sou alegria e dor,
sou ferida mal curada,
sou adorada e desprezada,
sou doce, sou amarga.
Sou um pouco do que eu mais queria ser
e muito de tudo que não consigo esquecer.
Sou continuação e retrocesso,
sou pouco, sou excesso.
Sou várias numa só,
sou um laço, sou um nó.
Sou de muitos e de ninguém,
sou um "mas", sou um "porém".
Sou inteira e sou metade,
superior e igualdade,
sou prisão e liberdade,
sou letras espalhadas
e palavras entrelaçadas.
Sou uma história mal contada,
mas quem de nós não é?
Eu caio e fico de pé,
eu sou como a vida quer.
No claro eu perambulo
e caminho pelo escuro,
eu me rasgo e me despedaço,
eu me abraço e me afasto.
Eu me quero bem,
eu me sinto um ninguém.
Eu ouso sem pensar,
eu minguo sem parar.
Sou grande, sou pequena,
sou um estádio, uma arena,
sou mais veloz que um avião,
sou rebelde sem noção,
sou pura emoção.
Sou fogo e sou água,
sou cura e sou praga,
eu sou uma estrada
que nunca ninguém atravessou.
Sou o pouco que restou
de tudo que alguém me roubou.

Um comentário:

  1. Esse poema é aquilo que eu sou… ninguém me percebe, ninguém lê os meus pensamentos, e quando tentam acabam por não perceber, mas descobri o único ser que me percebe, o meu reflexo num espelho. Parabéns pelo blog.

    ResponderExcluir